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«James White» por João Miranda

Olhando para as notícias em tempo recentes, é espantoso que se pense necessário fazer filmes sobre homens-criança brancos, ricos e agressivos. “Pharma Bro” e “Affluenza Teen” parecem ser bons argumentos para se tentar mudar a cultura tóxica desta masculinidade e privilégio, mas, ainda assim, há pessoas como Josh Mond que nos resolvem presentear, de forma acrítica e irreflectida, com filmes como “James White”. O titular James, representado pelo nada carismático Christoffer Abbott, está perdido entre a morte do seu pai ausente e o cancro da sua mãe. Desempregado, mas mesmo assim sem dificuldades financeiras (leia-se: vive à custa da mãe doente), conhecemos James no final de uma noite de bebedeira durante o velório do seu pai.

Não há nenhum problema técnico com o filme, com algumas ideias interessantes e a maioria das representações sólidas. A nível da escrita, nunca consegue voar muito acima dos clichés e na segunda metade despenha-se completamente neles, mas não é isso que o torna um filme mau. O que o torna um filme mau (execrável mesmo) é a ideia de que estas pessoas privilegiadas e estúpidas, de alguma forma, possam ser desculpadas pelas dificuldades que vivem. Segundo o próprio filme, James já era uma besta antes da morte do pai e da doença da mãe e é óbvio que não tem grandes problemas em viver à conta dela. É, portanto, mais um daqueles que acha que tudo lhes é devido e que não deve nada a ninguém. O curioso é que, pelas reações das pessoas à volta dele, o escritor/realizador sabe disso, mas, por alguma razão, acha que isto é uma história de valor e que merece os milhares de dólares que foram enfiados nele.

Podemos ver os produtos culturais como retratos da sociedade em que são feitos, mas não nos podemos esquecer que, de alguma forma, ajudam a construí-la. Mesmo que se queira argumentar que o objetivo do filme é criticar este tipo de pessoas, não há nada no filme que o sustente. Ao que parece o problema é que se trata de uma quase auto-biografia. Parece que não aprendeu muito com a sua experiência. Este é um desperdício de recursos e tempo, de quem o fez e de quem o vê.

O Melhor: O aspeto técnico.

O Pior: Ter sido feito. Não chega já?

João Miranda