Sexta-feira, 19 Abril

«Avril et le monde truqué» (Abril e o Mundo Extraordinário) por João Miranda

A Banda desenhada francesa tem uma grande tradição de anos e uma qualidade superior a muitos dos comics norte americanos que enchem as bancadas. Jacques Tardi é um dos nomes que faz parte dessa tradição e que nos tem dado vários obras, com algumas já adaptadas ao cinema, como As Aventuras de Adèle Blanc-Sec. Abril e o Mundo Extraordinário é baseado numa ideia sua e conta com a sua participação no desenvolvimento gráfico.

Passado numa Paris ucrónica em que Napoleão III morreu precocemente e a electricidade nunca foi descoberta, o filme segue a titular Abril a continuar o trabalho dos seus pais desaparecidos, tentando desenvolver um soro miraculoso que previne as doenças e até a morte. Com o desaparecimento de vários cientistas e o recrutamento forçado dos que não desapareceram pelo o Estado para a investigação bélica, Abril vê-se perseguida pela polícia e envolvida numa aventura fantástica com tecnologias estranhas.

Completamente distinta das animações norte americana e japonesa, “Abril” não deixa de ser surpreendente, tanto pelo que se passa na acção como pela invenção de tudo o que surge no ecrã. O desafio do steampunk ucrónico, com máquinas limitadas ao vapor, mas provocando uma crise de recursos semelhante à que temos, leva à criação de um mundo completamente diferente do nosso, mas, ao mesmo tempo, tão semelhante. A animação, ainda que profundamente “desenhada”, tem uma fluidez e uma credibilidade que, sem procurar o fotorealismo, ajuda a definir esta realidade alternativa.

Focando-se na narrativa fantástica, mas deixando que temas maiores se desenvolvam como parte do cenário sem nunca se sobrepor a ela, “Abril” consegue o que muitos filmes tentam, mas não conseguem: uma obra profunda com temas complexos e que, ao mesmo tempo, entretém. A curiosidade de saber o que se vai seguir e qual o desenlace da história, mantém-nos presos até ao final, que não desilude. Se alguns dos temas podem não ser óbvios para uma criança mais pequena, despontarão a curiosidade e as questões das outras e levarão à reflexão de um adulto. Isso é algo único e valioso no cinema.

O Melhor: A animação; a fantasia; a primazia da narrativa.
O Pior: Que não haja mais assim.


João Miranda 

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