Sexta-feira, 19 Abril

«As We Were Dreaming» (Enquanto Sonhamos) por Hugo Gomes

Baseado no primeiro livro do escritor Clemens Meyer, Enquanto Sonhamos (Als wir Träumten) é a jornada de um grupo de jovens (Dani, Paul, Rico, Pittbul e Mark) que tentam manter-se imutáveis face às mudanças do mundo, até porque a ação desta história decorre logo após o fim do RDA, período em que o destino destes “prodígios” se alterou.

Derivado a isso, temos uma juventude inconsequente, iludida por promessas ultrapassadas de um país que já não existe, e cujos espetros teimam em ser invocados. Constantemente mergulhados num submundo de drogas, álcool e violência, este “quinteto de cordas” é caoticamente conduzido à delinquência e a consequências maiores que marcarão para sempre as vidas de uma anteriormente aclamada geração de ouro.

Do ascendente cineasta Andreas Dresen (que com o seu Halt auf freier Strecke, venceu um prémio na secção Un Certain Regard, no Festival de Cannes de 2011), Enquanto Sonhamos apresenta um registo narrativo que perpetua um constante confronto cronológico(os diferentes espaços temporais são conotados através do tratamento da sua fotografia). Tendo elementos base (por vezes encarados como lugares-comuns) sobre a autodestruição juvenil, o realizador parece partilhar a mesma visão destes jovens protagonistas, cujos atos irreversíveis são ilustrados como fantasias eufóricas percutidas pela música techno. Para quem julgava existir aqui um formato quase Trainspotting, o erro poderá ser fatal, até porque Dresen “veste” o seu filme com uma moralidade subliminar em relação às suas personagens, mais que um acolhimento dito ambíguo que a intriga poderia suscitar.

O erro, é que com isto perde-se uma agressiva análise crítica de uma geração perdida, com reflexões a uma nação reunificada, rejuvenescida mas ainda traumatizada pelas memórias passadas, e ganha-se mais um episódio coming of age erguido com admiração incontestável deste universo.

Depois temos um ligeiro maniqueísmo que infesta a caraterização das personagens, que por mero infortúnio (ou não) dificilmente se sobressaem da esquematização, nunca trespassando a mera promessa. Tinha potencial!

O melhor – O visual e a euforia
O pior – Falta-lhe ambiguidade


Hugo Gomes

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