Sexta-feira, 19 Abril

«Chloe & Theo» (Chloe e Theo – Uma Missão Para Salvar o Mundo) por Jorge Pereira

Por melhores intenções que existam, uma adaptação ao cinema nunca pode ser vangloriada quando falha em toda a linha e se entrega ao espectador como um panfleto manipulador. Chloe & Theo é um daqueles trabalhos em que o conceito e a história por trás da sua conceção são muito mais interessantes que o filme em si.

Em 2006, Theo Ikummaq, um Inuit do Ártico Canadiano, foi até Los Angeles com o objetivo de falar com os governantes (ele refere-se a eles como os anciãos) para transmitir a mensagem que o degelo provocado pelo aquecimento global estava a acabar com o modo de vida do seu povo. Apesar de ser ouvido por algumas personalidades, Ikummaq regressou a casa de mãos a abanar.

Anos depois, o produtor de filmes como A Lenda de Zorro, Sacanas Sem Lei, e O Turista, Lloyd Phillips, que Ikummaq conheceu num desses encontros em LA, achou que a sua história merecia atenção e contactou Monica Ord, uma consultora e empresária. Esta chegou ao milionário Richard Branson, que mais tarde financiaria um trabalho documental sobre as alterações no Ártico devido ao aquecimento global. Mais de 200 horas foram registadas, mas o resultado final na forma de documentário não chegou às massas, nem despertou consciências como devia. Frustrada, Ord conhece o realizador Enza Sands num evento para angariar fundos e ambos decidem passar à fase seguinte: fazer este Chloe & Teo.

Com mudanças substanciais em relação à história original, Chloe & Teo é-nos entregue na forma de um conto de fadas ecológico pastelão com todo o tipo de problemas. Ikummaq faz aqui o papel de si mesmo e viaja para Nova Iorque para falar com os líderes do sul. Esta mudança de local revela-se fulcral pois o MacGuffin do filme é que o Inuit chegue a falar com as Nações Unidas, cuja sede está mesmo nessa cidade. A ajudar Ikummaq nessa jornada – onde é inegável não nos lembrarmos de O Feiticeiro de Oz – temos um bando de sem-abrigo, onde se inclui uma esforçada, mas pouco credível e deslocada do seu habitat Dakota Johnson (As 50 Sombras de Grey), e uma empresária (Mira Sorvino), que aqui funciona como uma personagem biográfica da própria Ord.

Com exceção dos primeiros minutos, tudo o mais é penoso e até embaraçoso de se ver. Veja-se como é introduzido neste enredo o fascínio da personagem de Johnson por Bruce Lee. Na verdade, as personagens e os diálogos estão entregues à mais simplista das visões e os atores parecem perdidos no meio de uma amálgama de pequenos anúncios institucionais e moralistas de como nos devemos comportar e respeitar a natureza. Para piorar, o último terço da história é radicalmente alterado em relação aos eventos ocorridos, provocando um travo amargo no espectador, que questiona mesmo o porquê desse artificialismo.

Assim, e se o objetivo era dar realmente alguma dignidade a Ikummaq e à sua história, o resultado fica longe do desejado, pois, pese embora ficarmos com curiosidade em saber os factos verídicos, este filme só serve para o espectador alienar-se ainda mais da verdadeira questão em debate.

O Melhor: As intenções e os bastidores que levaram à execução desta obra ficcional
O Pior: Simplista em toda a linha


Jorge Pereira

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