Sexta-feira, 29 Março

«A Very Murray Christmas» por Jorge Pereira

Há uns meses atrás, e em declarações à Variety, Bill Murray afirmava que A Very Murray Christmas seria executado como um pequeno filme sem um formato definido, e que teria música, textura, tópicos e prosa. Tudo isso é cumprido nos limites mínimos neste especial de natal criado propositadamente para a Netflix por Sofia Coppola, uma cineasta cujo ponto alto na carreira continua a ser um filme protagonizado pelo próprio Murray: o inesquecível Lost in Translation.

No seu enredo, A Very Murray Christmas tem Bill Murray no papel de uma estrela que prepara um show ao vivo com transmissão internacional. Porém, um nevão vai levar o caos até ao programa, que com a ausência de convidados tem todos os ingredientes para ser um valente fiasco. É com a chegada de Chris Rock, também ele vítima das condições meteorológicas, que começam as peripécias, destacando-se no imediato o dueto «improvisado» dos dois para cantar Do You Hear What I Hear?.

Claro está que por termos atores a cantar, e não verdadeiros profissionais da música (exceção a Miley Cyrus e a banda Phoenix), será preciso ter uma maior tolerância (especialmente nos ouvidos), mas a improbabilidade das situações e dos duetos são toda a graça deste especial repleto de estrelas, onde até não falta Amy Poehler como produtora do evento, Michael Cera como um produtor rival com ideias muito diferentes para tudo, Jason Schwartzman & Rashida Jones como um casal de noivos deprimidos, ou até um George Clooney que se cruza com Miley Cyrus e Bill Murray, num dos momentos mais conseguidos de todo este espectáculo.

Assim, e no todo,  A Very Murray Christmas é um produto demasiado ligeiro que funciona essencialmente como uma forma de auto-congratulação ao ator que lhe dá o nome, e que sobrevive devido ao factor kitch de termos tantas vedetas em momentos improváveis. No final, e feitas as contas, ficamos claramente com a ideia que tudo isto é um bocado vazio (um desperdício de tantos atores talentosos, até), forçado e que este não é um produto televisivo que vamos ver mais que uma vez.


Jorge Pereira

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