Quinta-feira, 18 Abril

«Secret in their Eyes» (O Segredo dos seus Olhos) por Virgílio Jesus

O remake é as uma das inúmeras práticas institucionais da indústria cinematográfica americana que denota a dependência do cinema por imperativos comerciais de modo a que estúdios alcancem maior lucro com as suas produções.

Começamos por aqui, porque O Segredo dos Seus Olhos é uma uma refilmagem do filme argentino com o mesmo nome de 2009, vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Numa nova perspetiva do agora realizador Billy Ray (argumentista de Capitão Phillips) percebemos algumas práticas da indústria. Todavia, o elenco mantém a narrativa bem fluida.

A história parte da perspetiva de Ray (Chiwetel Ejiofor) um polícia que há muito tempo deixou o seu emprego no FBI em consequência da obsessão por um assassinato, no qual a vítima era a filha da sua melhor amiga Jess (Julia Roberts), também ela agente. 13 anos depois e com uma nova pista, Ray tenta pedir ajuda à representante do ministério público e antiga paixão platónica Claire (Nicole Kidman) de modo a ver finalmente justiça cumprida. Mas a história não é assim tão simples: são necessárias muitas provas e o enredo segue permanentemente esse caminho. Com evidências aqui e ali, O Segredo dos Seus Olhos está sobrecarregado de flashbacks, que mesmo tentando justificar algumas questões, deixa outras sem resolução. O caso da morte de Carolyn (Zoe Graham) apenas domina os primeiros minutos do filme, mas há uma réstia de esperança de descobrir o porquê do seu assassinato. Outros momentos às vezes desnecessários, como as brincadeiras do agente Bumpy (Dean Norris), têm mais importância do que a situação problemática.

A narrativa prolonga-se mas, como já enunciado, mantém o espetador fixo pelas prestações do trio. Em primeiro lugar, Chiwetel Ejiofor consegue demonstrar a obsessão gerada naquele meio em que a sua personagem tenta fazer justiça pelas próprias mãos. Está naquela situação em que vê um amigo sofrer por um erro de que se sente culpado. A perturbação conduz a 13 anos de pesquisa de rostos de criminosos, quando aquele que procura é, metaforicamente, o seu – evidente nos momentos iniciais quando os seus olhos são iluminados por dois pequenos rostos cujas imagens estão no seu computador. Em segundo lugar, Nicole Kidman (mesmo não sendo a atriz de As Horas, Moulin Rouge ou Dogville) é talvez a sua personagem cujo caráter mais se transforma diante da pressão envolta – a sua neutralidade é no final colocada à prova. Já Julia Roberts, cujo papel fora inicialmente escrito para um ator, não nos deixa ficar mal e, mesmo que a sua performance seja por vezes abafada em relação à paixão de entre as personagens de Ejiofor e Kidman, aparece com a máxima tensão dramática. Uma nota para facto da atriz durante as filmagens ter perdido a sua mãe, sofrimento real que perpassa no ecrã, como no momento em que quebra um espelho – outra metáfora, de como a sua identidade como agente está fragilidade. No final até somos surpreendidos como já não acontecia há muito numa experiência cinematográfica.

Em síntese, o filme é puramente americanizado uma vez que relembra o temor sentido em Los Angeles no pós-11 de setembro em relação a um novo atentado terrorista. O argumento peca por tornar os muçulmanos inimigos, quando o cinema deveria ser utilizado para mostrar o contrário, ao encontro da mensagem utilizada nos últimos dias, de que o terrorismo não está vinculado a nenhuma religião.

O melhor – Os olhos de Ejiofor, Kidman e Roberts.
O pior – O estilo americano que revela. 

 
Virgílio Jesus

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