Sábado, 20 Abril

«11 Minutes» (11 Minutos) por Roni Nunes

Filme que termina com pesados acordes guitarrísticos e parece soar como uma “declaração de jovialidade” do septuagenário Jerzy Skolimowsky. A agressividade visual e sonora é acompanhada pela utilização dos últimos brinquedos tecnológicos para produzir imagens (telemóveis, webcams etc.), cuja multiplicidade compactuam com a igualmente vasta gama de personagens em 11 minutos de suas vidas. Há o produtor de cinema sem escrúpulos (Richard Dormer) que pretende levar para a cama uma atriz aspirante (Paulina Chapko), o misterioso vendedor de cachorro-quente (Andrzej Chyra) que esteve na prisão, uma adolescente rebelde (Ifi Ude) que tentou o suicídio e passeia pela cidade com um cão e assim por diante.

Do que Skolimowsky não consegue escapar, mesmo com inteligentes edições visual (a forma como passa de uma história para outra) e sonora (a maneira como os diferentes sons comentam o que se está a passar), alguns rasgos surrealistas (a bolha), achados cómicos (as duas cenas com o “pixel morto”) e um final bizarro-sarcástico, é de dois problemas essenciais. De um lado, a extrema fragmentação com o que apresenta uma miríade de personagens que raramente escapam a um certo lugar-comum, ao mesmo tempo que a maior parte deles não têm tempo de dizer a que realmente vêm. Daí possibilidades dramáticas desperdiçadas, como a tal cena entre o produtor e a atriz.

Mas o pior é mesmo a sensação de déjà-vu, que dificulta com que esse retrato de uma Varsóvia pouco conhecida dos ocidentais seja surpreendente exatamente por se parecer com qualquer outra cidade onde filmes-mosaicos já foram feitos. Ocorre que num tipo de abordagem particularmente repleto de obras-primas, a obra torna-se dificilmente surpreendente fora das fronteiras da Polónia. De Short Cuts a Relatos Salvajes, passando por Magnólia, Amor-Cão, Colisão, O Som ao Redor e Capital Humano, 11 Minutos lembra todos sem se equiparar a nenhum.

O Melhor: as inventivas edições visual e sonora.
O Pior: a sensação de déjà-vu, de já ter visto tudo isso em filmes melhores. 


Roni Nunes

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