Sexta-feira, 19 Abril

«Last Man in Dhaka Central (The Young Man Was…, Part 3)» por João Miranda

Naeem Mohaiemen é um escritor e artista do Bangladesh que, em 2011, iniciou um projecto fílmico sobre o terrorismo: The Young Man Was…. Esta é a terceira instância desse projecto, neste caso focado sobre Peter Custers, um holandês que se viu implicado num suposto golpe de estado, o último na sequência de vários que ocorreram nos anos 70 no Bangladesh. Acusado, Peter foi preso e torturado até que, por intervenção diplomática da Holanda, acabou por ser solto e expulso do país. O filme é uma entrevista a Custers, onde este vai contando, com as reservas do passado, mas a paixão ainda presente, a sua motivação e participação nessa altura tão complicada.

De uma abertura e generosidade desarmantes, Custers consegue fazer um retrato de uma época em que as ideologias do Ocidente (de forma paternalista, admite) se viraram para o Oriente e tentaram emancipar da pobreza e da opressão as massas pela educação e participação política. Os jogos políticos que vai descrevendo são reconhecíveis na história de qualquer país que tenha passado por uma situação semelhante, como Portugal (até o Kissinger esteve envolvido na coisa, como não podia deixar de ser).

Denso e verboso, este filme não se compadece de quem procura apenas entretenimento, como o descobriu uma das pessoas ao meu lado na sessão, que, pelo final, se queixava do “aborrecido” que era ao companheiro (razão pela qual tinha resistido até ao fim). Os discursos históricos, políticos e revolucionários exigem uma participação activa para serem compreendidos. Podem ser reduzidos e simplificados para agradar a toda a gente (vem-me à cabeça a série Hunger Games e a reacção ao segundo filme, o mais político deles), mas, ao fazê-lo, perde a sua força. Talvez numa sala de ocidentais mais habituados a ver televisão e blockbusters este filme não encontre o seu público, mas aí também se levanta a questão: como fazer para os interessar nestes temas?

O Melhor: Peter Custers, a sua generosidade e abertura.
O Pior: Com tanto que foi dito, tanto que ainda ficou por dizer.


João Miranda

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