Sexta-feira, 19 Abril

«Malenkiy Prints» por João Miranda

Numa aldeia perdida nos Urais um pai de quatro crianças resolve fazer uma versão filmada d’O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. No que se revela uma tarefa mais complicada do que no início pensava, o filme e  a atenção que este gera vai acabar por acentuar o cisma entre este e o resto da família. Ou assim parece. Filmado apenas por uma pequena câmara, na minúscula casa da família, a câmera vem ela própria acentuar (não se percebe se é consciente por parte da realizadora, Olga Privolnova), nestas divisões apertadas e cheias, a encenação por parte de todos os que apanha. Se todo o comportamento humano tem uma parte de encenação/performance, a presença de uma câmera acentua-a. Neste caso, a divisão entre pai e mãe vai mobilizando as crianças de formas que nem sempre são coerentes com tudo o que é dito e feito. Sim, o pai mostra-se ausente, despegado e ambicioso, mas a realização de um filme durante mais de dois anos, com tudo o que é necessário a isso (ouvimos dizer que foram as filhas que fizeram os fatos utilizados) implica uma proximidade e um investimento que não se coaduna com a separação emocional que é implicada no filme. Por outro lado, o esforço da mãe por se retratar a si própria como vítima, torna difícil perceber até que ponto as crianças não estão a ser manipuladas pelos dois pais. Talvez a chave esteja numa das cenas finais, quando os dois se despedem e o silêncio e a distância se sentem inultrapassáveis.

Malekiy Prints é um documentário intimista, sem grande ousadia formal, constituído apenas por algumas cenas familiares e uma ou outra entrevista improvisada. A impossibilidade de compreender a intenção da realizadora torna-o relativamente amorfo e com um interesse limitado. Por outro lado, a forma parcial como algumas cenas são filmadas, parecem apenas mostrar a vontade da realizadora em acentuar a distância entre os pais, sem qualquer noção de consequência para com eles. Erros amadores que tornam este filme em algo esquecível.

O Melhor: A interação entre os miúdos.
O Pior: A (aparente) ausência de intenção da realizadora.


João Miranda

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