Terça-feira, 16 Abril

«O Futebol» por João Miranda

Afastado do pai, depois de este se ter separado da sua mãe, durante mais de 20 anos, Sérgio Oskman, o realizador deste filme, procura, com a Copa do Mundo como cenário, as bases para uma qualquer relação com o pai. No início do filme é lançado o mote para o que vamos ver: os dois passarão juntos os jogos do mundial. Mas a relação deles, que se baseava no futebol quando ainda moravam juntos, é posta em causa pelo desinteresse atual do pai pelo tema e, apesar dos esforços do realizador, as rotinas e o trabalho do pai parecem dificultar essa aproximação.

Se o futebol é o último reduto dos nacionalismos (ou seria até há pouco tempo, tendo a crise mundial feito com que novamente estas fantasias parecessem alternativas viáveis), Oskman, brasileiro que vive em Madrid, parece afastado o suficiente da realidade brasileira para não se deixar levar pelo entusiasmo do campeonato e, apesar do título do filme, se focar na relação com o pai, ao mesmo tempo que consegue fazer um retrato superficial da sociedade brasileira. Superficial porque se limita aos contextos sociais do seu pai, sem nunca procurar comentar ou desenvolver.

Acabando por ser mais um retrato do pai e das suas rotinas, O Futebol não consegue nunca atingir qualquer profundidade maior do que as idiossincrasias e contradições deste. O Brasil e a Copa estão por toda a parte como ruído de fundo e, com a excepção de cenas pontuais, não conseguem mais do que encher os cantos do ecrã. Mesmo o trabalho do pai, com as dificuldades que se percebem por uma única conversa e, apesar disso, preenchido por dias a fazer quebra-cabeças, não é muito desenvolvido. Podia dizer-se que é um retrato do Brasil que, mesmo com as dificuldades constantes, persiste nas suas rotinas e até sonha mais alto com a realização de uma Copa do Mundo. Mas, a haver essas leituras, não são suportadas por nada que se passe no filme e são trazidas pelo espectador. Pior, para quem não conheça bem a realidade do Brasil, leituras dessas estão completamente inacessíveis.

O Melhor: A relação pai-filho com todas as suas dificuldades.
O Pior: A superficialidade e o relegar para segundo plano o que o podia tornar mais incisivo e interessante.


João Miranda

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