Quinta-feira, 28 Março

«Les Anarchistes» (Os Anarquistas) por Hugo Gomes

Les Anarchistes (Os Anarquistas) leva-nos à mudança do século, acompanhada pela vinda de novos pensamentos, quer políticos, quer sociais, e as declarações de guerra às bases ideológicas estruturadas do passado. Estamos em Paris de 1899, onde um jovem polícia, Jean Albertini (Tahar Rahim), tem a importante missão de se infiltrar no seio de um grupo de jovens idealistas, anarquistas, segundo o Inspetor-Chefe da Policia (Cédric Kahn). Durante a sua arriscada missão, visto que terá de participar nas operações criminosas da sua nova comunidade, Jean envolve-se romanticamente com um dos seus membros, Judith (Adèle Exarchopoulos), e fraternalmente com os restantes, tornando a missão num dilema sobre compromisso e lealdade.

A segunda obra de Elie Wajeman resume-se a um filme de época que tenta contextualizar as ideologias anárquicas para fomentar uma crítica político-social, mas cai no erro de concretizar o enésimo registo da dita fórmula de infiltrados e dilemas, o que converte Les Anarchistes num filme composto por uma ideia, mas executado de forma previsível, para não falar da câmara indisposta do realizador e do desequilíbrio ideológico. É que Elie Wajeman esforça-se por ser um anarquista, mas acaba por ser um hipster sem objectivo. Os atores fazem o que podem mas são desaproveitados em consequência de uma montagem isenta de ritmo.

Um desses casos de desperdício é o de Adèle Exarchopoulos, “violada” não só pela mesma decisão artística, como também pelas pretensões de transformá-la num sex symbol, uma imagem que parece ter sido adquirida desde o êxito de La Vie d’Adèle (A Vida de Adèle), dissipando assim as suas habilidades como motor dramático, o qual a atriz é capaz de ser. Les Anarchistes é uma pura desilusão e desbaratamento de recursos.

O melhor – Adèle Exarchopoulos, apesar de tudo
O pior – Elie Wajeman não tem estofo de ideológico corrosivo, ao invés disso comporta-se como um hipster em fórmulas já batidas


Hugo Gomes

 

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