Terça-feira, 23 Abril

«Anacleto, o agente secreto» por Jorge Pereira

Paralelamente ao tremendo sucesso que os filmes e livros de espionagem tiveram após a criação de James Bond por parte de Ian Fleming, surgiram uma série de personagens que, de certa maneira, parodiavam com o género. Anacleto, o agente secreto é um bom exemplo disso: uma criação em banda-desenhada de Manuel Vázquez Gallego que ganhou vida em papel em 1964 e que, cinquenta anos depois, chega aos cinemas. O estilo é um pouco o dos filmes franceses OSS 117 (na década de 2000), os britânicos Agent 8¾ (anos 60), Johnny English (aqui a viver muito do eterno “Mr. Bean”) ou até do mais antigo Get Smart (Olho Vivo) – série que Vázquez Gallego confessou ser a sua maior inspiração.

O realizador, Javier Ruiz Caldera, já é famoso em Espanha pelo registo na comédia, sejam elas meros “spoofs” (Spanish Movie, 2009), de fantasia (Promoción Fantasma, 2011), ou com toques de romance (3 Bodas, 2012). Neste filme ele aventura-se mais no reino da ação, embora seja no humor e nas personagens excêntricas que reside a maior (ou única) graça.

Encontramos por aqui um Anacleto já idoso, retido no deserto por um perigoso vilão que ameaça o seu filho, Adolfo. À primeira vista, Adolfo é um mero segurança incompetente cuja namorada está prestes a abandonar, pois tal como a personagem de Jamie Lee Curtis, no inesquecível True Lies – A Verdade da Mentira, esta crê que o seu companheiro vive uma vida demasiado chata e sem aventura. Mal ela imagina no que repentinamente se irá envolver, pois o grande vilão da história não desiste até que elimine Adolfo e todos aqueles que estão ligados a eles.

Embora sem nunca brilhar e com alguns momentos de ação que roçam o banal e o demasiado estúpido/redundante (a sequência no mercado é exemplo disso), Anacleto, o Agente Secreto consegue oferecer alguns bons momentos de humor que escapam ao mero ensaio slapstick. Uma mão cheia de situações surreais (o tabaco no deserto, a vaca que esconde uma arma e até uma Rossy de Palma sempre hilariante) elevam o filme para além de mais um Spy Hard (Espia como Puderes, 1996).

Um último destaque vai para o duo de atores Imanol Arias e Quim Gutiérrez, em boa forma numa comédia onde até existe uma espécie de Randy de Scream (Gritos) para nos lembrar dos clichés do mundo dos filmes deste género.


Jorge Pereira 

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