Terça-feira, 23 Abril

«The Intern» (O Estagiário) por Jorge Pereira

Nancy Meyers nunca se moveu por enredos complexos ou por reviravoltas mirabolantes. Ao invés, a argumentista e realizadora sempre preferiu dar mais atenção às suas personagens, criando uma empatia destas com o público, estudando as suas relações e comportamentos em limites bem definidos. Essas personagens, normalmente à deriva, multiplicaram-se por diversos filmes apelidados de comédias ligeiras, como O que as Mulheres Querem (2000), Alguém Tem que Ceder (2003), O Amor não Tira Férias (2006) e Amar… é Complicado! (2009).

Chegados a 2015, a norte-americana não desarma e coloca frente a frente dois protagonistas (para não variar, de classe média) separados por várias gerações. Mais uma vez o resultado é semelhante a muitos dos seus trabalhos anteriores: morno. É na dupla de atores principais, Robert De Niro e Anne Hathaway, que reside o que de melhor há nesta produção, a qual segue um homem de 70 anos que vai trabalhar como estagiário numa dessas novas startups da web ligadas à moda.

Ben (De Niro) é um homem simples, metódico e prático. Apesar de desprezado inicialmente, aos poucos ele impõe-se e vai-se tornar uma espécie de conselheiro sentimental de Jules Ostin (Hathaway), uma frenética workaholic que tenta superar-se a si mesma diariamente no mundo dos negócios mas que aos poucos e poucos afasta-se perigosamente da vida familiar (marido e filha). Pelo meio surge um grande rol de personagens secundárias mas, estranhamente, nenhum deles se evidencia em papéis tão mirrados de crowd-pleaser tanto insípido como açucarado.

Claro que tudo podia ter sido tudo muito diferente se as situações que funcionam de motor para a história fossem muito mais arrojadas e com um forte sentido de crítica. Mas, na verdade, estamos num filme de Meyers, onde o mote é mesmo a piada ligeira e um charme entre os protagonistas que conquiste audiências.

É que mais do que contar uma história parece que O Estagiário quer passar uma mensagem: que a geração digital (da web) tem ainda muito que aprender com a textual & analógica, não apenas a nível profissional mas principalmente no que diz respeito às suas relações familiares e emocionais. Ou então é uma afirmação que os mais velhos – para além do savoir faire que podem transmitir aos mais novos – têm prospectivas de emprego e de sucesso. Que novidade!

O Melhor: A dupla protagonista
O Pior: Demasiado ligeiro e superficial para os temas que aborda


Jorge Pereira

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