Sexta-feira, 19 Abril

«A Royal Night Out» (Uma Noite Fora do Palácio) por Virgílio Jesus

Londres, 8 de maio de 1945. A Segunda Guerra Mundial terminava. A multidão festeja junto ao Buckingham Palace, em Trafalgar Square e por toda a cidade. Ansiosas por se juntar às comemorações, a princesa Isabel (Sarah Gadon), futura rainha, e a sua irmã mais nova, Margarida (Bel Powley), decidem questionar os “papás” (o Rei Jorge VI e a Rainha Mãe, vividos por Rupert Everett e Emily Watson, respetivamente) se a saída do palácio é permitida. O resultado é uma despretensiosa comédia, abundante em peripécias, cujo tom de telefilme não suprime algum entretenimento.

Baseado em factos verídicos, muito embora os dois oficiais e o aviador com quem Isabel tem alguma química sejam fantasiados, o espectador reconhece imediatamente a dificuldade das princesas em escapar ao fatigante clima monárquico.

Escrito por Trevor de Silva e Kevin Hood e realizado por Julian Jarrold, também responsável pelo filme A Juventude de Jane (2007), Uma Noite Fora do Palácio coloca-nos frente a frente com o sentido da expressão ‘e se?’. O temperamento aventureiro da jovem Margarida – que teria apenas 14 anos – e da sábia e sensível ‘Lillibet’, com 19, é por certo eficientemente interpretado por Bel Powley e por Sarah Gadon. Pelas ruas de Londres conhecemos aquilo que é ser ‘comum’, sem utilizar o título real como escapadela aos problemas, tidos por nós, como quotidianos. Entre intrigas, prostitutas ou cabeças de cavalos espalhadas em Soho, o filme assemelha-se quase a uma dança bem coreografada. Note ainda a preocupação de Isabel em constatar o que os seus súbditos realmente pensam. Aliás, é como o próprio rei preconiza, o mundo dela está a chegar.

Além disso, é notável o quanto a personagem de Rupert Everett, o rei gago, se refaz no próprio cinema. Neste caso, Jorge VI é personagem secundária tal como em W.E. (2011), de Madonna ou Hyde Park em Hudson (2012), de Roger Michell, no qual esteve a cargo dos atores Laurence Fox e Samuel West. Porém, nenhum deles ecoa o caráter meditativo como Colin Firth em O Discurso do Rei (2010), com o qual venceu o Óscar de melhor ator. Lamentável que Emily Watson não tenha tempo para brilhar como a respeitável e austera matriarca. Ambos estão na sombra de outros desempenhos, tão mais sólidos porque foram os primeiros. Do ponto de vista técnico, destaque para o excelente guarda-roupa a cargo de Claire Anderson e pela direção artística de Tim Blake e Steve Carter.

Com 70 anos, estes acontecimentos são encarados pela audiência como uma farsa, uma nova mentira que trabalha a tão infinita e eficaz expressão ‘contar uma história’, que no cinema amplia-se não apenas ao imaginário como também ao real. Mas que real é esse?

O melhor: As interpretações de Sarah Gadon, Bel Powley e Jack Reynor.
O pior: A parecença com um episódio alargado de Downton Abbey.


Virgílio Jesus

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