Terça-feira, 16 Abril

«The Assassin» (A Assassina) por Paulo Portugal

O filme vencedor do prémio de melhor realização do último festival de Cannes situa-se entre os registos mais belos que vimos nos últimos anos. E ainda que esta incursão história na evocação de um episódio da dinastia Tang possa, por vezes, exigir mais do que a nossa predisposição para acompanhar a sua intrincada trama, seria injusto que isso pecasse numa mais pobre avaliação. Apesar de não ter visto em Cannes, embora conscientes do impacto que obteve e em que muitos o consideraram como um justo candidato à Palma de Ouro, deixámos de lado qualquer tipo de julgamento antecipado.

Desde logo porque é difícil ficar indiferente à opção de Hou Hsiao-Hsien na abordagem que faz ao tema wuxia. Poderia ter seguido pelo lado mais acrobático que reconhecemos de Zhang Yimou ou Wong Kar Wai, mas o cineasta de Taiwan centra-se na história mítica da jovem Yi Yinniang (interpretada com enorme destreza por Shu Qi), raptada no ano 809 para se transformar numa assassina profissional.

Apesar de letal deixa que uma réstia de humanidade a faça falhas uma execução, sendo posteriormente enviada para uma missão ainda mais cruel, onde teria de liquidar o governador de uma província, seu primo e antiga paixão. Dentro desta história mínima, cresce um trabalho perfecionista de composição e singular beleza, coadjuvado pelo exímio trabalho de câmara de Mark Lee Ping-Bing que nos oferece ambientes que de um realismo onírico. Os combates não são sequer os momentos mais impactantes deste filme, ainda que sejam coreografados com extrema minucia e serena elegância, como se num sereno bailado.

Sim, está muto perto da obra-prima.


Paulo Portugal

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