Terça-feira, 16 Abril

«Regression» (Regressão) por Paulo Portugal

As hostilidades do Festival de Cinema de San Sebastián começaram com o regresso de Amenabár ao território do ambiente do terror realista, como nos definiu durante uma conversa que tivemos depois da Gala de abertura do festival. O cineasta que se afirmou com Tesis (1996), um misto de thriller, snuff e terror, mas que alargou os horizontes para Abre os Olhos (1997) e deu mesmo o salto para o cinema falado em inglês e dirigindo estrelas como Nicole Kidman, em Os Outros (2001), ou Rachel Weisz, em Ágora (2009).

Ensaia agora um novo percurso no cinema de género, na tradição do thriller e do terror, explorando o fenómeno dos rituais satânicos que causaram algum furor durante dos anos 90, nos Estados Unidos, a propósito das declarações de um pai que vem confessar ter cometido crimes horríveis com a sua filha. Ela é Emma Watson, a demonstrar que fez a melhor transição de carreira para a idade adulta, ao lado do agente defendido pelo competente Ethan Hawke.

Até aqui, tudo bem, a não ser que cedo se perceba que Amenabár demore a cercar a história de um verdadeiro ‘punch’ e a evitar os lugares comuns do género. Entre uma tentativa de suspense, devidamente filtrada pelos tiques dos cultos de fundo religioso, sobra um guião que nunca chega definitivamente a impor-se. Sobretudo quando chega a um final que acaba por não correr riscos e a deixar-nos mesmo em meias tintas.

É pena, pois existia material para mais e para melhor. 


Paulo Portugal

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