Se Frédéric Tcheng ambiciona ser cineasta, a área do documentário revela-se-lhe como um passo em falso. A sua longa-metragem de estreia, Dior e Eu, revela-se não mais do que uma propaganda à marca de moda, mas, pior, um retrato hagiográfico do novo diretor artístico, Raf Simons (“o novo Dior”, exclama Tcheng naqueles contra-picados, muitas vezes com o céu intencionalmente em segundo plano) e do ambiente de trabalho que levou à coleção que apresentou em 2012, num espaço de oito semanas.
Há uma enorme secundarização do que parecia interessante: um dispositivo raro, a autobiografia do designer fundador, acaba por ver-se raramente usada, entrelaçando-a com o dia-a-dia da empresa, não tantas vezes quanto quereríamos. Assim, prevalece um aproveitamento enjoativo que do que é desprovido de qualquer relevância, ou seja, entrevistas a quatro ou cinco funcionários de alto calibre que não dizem mais que o mesmo – coisas “é ótimo trabalhar na Dior, mas é muito difícil” com um sorriso álacre na cara, quais papagaios previamente treinados. Ponha-se isto com imagens do trabalho nos ateliers e o que se obtém não é um documentário, mas uma reportagem televisiva em formato de longa-metragem ou o making off de um filme que nunca chegou a acontecer.
Como se não bastasse, termina justamente quando está-se a tornar interessante, como se Tcheng tivesse medo do que Simons disse naquela conferência de empresa aquando o promissor desfile e que lhe viesse a prejudicar o tom optimista do filme. Pior é que cai na ilusão comum de que é um excessivo número de cortes na montagem que dá origem a tensões dramáticas. Não é e, como tal, não é criada qualquer tensão. E assim, para além de mal filmado é também enervante. Falta-lhe algo maior. Falta-lhe um realizador que saiba o que mostrar e como mostrar. Falta-lhe cinema. Falta sangue nas veias deste filme de leite.
O melhor: O uso da autobiografia de Christian Dior.
O pior: O projeto não passar de propaganda publicitária.
Duarte Mata
