Quinta-feira, 25 Abril

«The Visit» (A Visita) por Duarte Mata

M. Night Shyamalan nunca foi um mau cineasta do género de horror, mas antes um bom cineasta do suspense. Que é como quem diz, não é tanto a criação do susto que interessa ao realizador indiano, mas antes o impulso no espectador em desejá-lo. Neste A Visita, longa-metragem que pode desiludir aos que esperam o grotesco (embora contenha mais do que os outros filmes do seu autor), pode-se reparar na forma como o interrompe, desviando a câmara nas situações mais medonhas ou mostrando (por vezes, a um ponto exasperante) o que outra personagem está a filmar numa ação diferente, naquele preciso momento (toda a intriga é sobre um par de irmãos adolescentes que querem fazer um documentário, na esperança de levar a mãe a fazer as pazes com os avós, com os quais vão passar uma semana de férias).

Há o retorno à alegoria, como nos seus melhores e mais subestimados filmes, Sinais e A Vila, neste caso abordando a impossibilidade de uma reconciliação familiar já muito adiada, um tema querido de quase todo o Spielberg, cineasta predileto de Shyamalan. A Visita segue, no entanto, a tradição do terror gerada pelo Projecto Blair Witch, isto é, a criação de um (falso) documentário que inocentemente procura o sobrenatural e que vira outra coisa quando o encontra.

Como os seus protagonistas, o realizador procurou o medo e encontrou-o, não em milhões investidos em efeitos de caracterização ou em saquetas com sangue artificial, mas sim no estudo da distorção da mente humana e na claustrofobia de uma casa com a história destruída. Destaque para Deanna Dunagan no papel da avó, a qual Kubrick haveria de sentir-se tentado em usar numa certa cena de banheira no seu Shining.


Duarte Mata 

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