Sexta-feira, 29 Março

«Love & Mercy» por André Gonçalves

A minha vida dava um filme” é a frase chavão de muito boa gente em momentos mais dramáticos. No caso de Brian Wilson, ou “Brian Wilson from The Beach Boys”, a vida dele daria no mínimo uma trilogia. Daí que Love & Mercy, o seu “biopic” oficial, se sinta algo condensado de momentos e fragmentos de dois períodos da vida do vocalista da banda pop – o primeiro momento-chave, nas gravações do icónico “Pet Sounds” e da crescente vontade de experimentar novos sons; o segundo, já nos anos 80, com um Brian Wilson mentalmente doente, negligenciado e controlado pelo seu próprio “Doutor” (que o sobredosava conscientemente para ganho pessoal), onde conhece Melinda Ledbetter, a sua eventual esposa.

De fora, apenas como referência numa ou noutra linha de diálogo, ficou a parte que seria mais desafiante em termos cinematográficos, onde Wilson terá passado um par de anos na cama em estado catatónico. Opção completamente justificável de forma a tornar o filme o mais fluído possível – até porque este conta já com duas horas de duração, mas ficou-se com a vontade de imaginar o que faria um já falecido Philip Seymour Hoffman num papel “intermédio” de Brian Wilson, como chegou a ser falado.

De resto, temos uma película acima de tudo muitíssimo bem montada e realizada, com piscadelas ao final de “2001” incluídas, e com performances bem sólidas a par do quarteto Paul Dano, John Cusack, Paul Giamatti e Elizabeth Banks (finalmente um pouco menos relegada para segundo plano), que peca quanto muito por uma caracterização demasiado fácil de uma ou outra personagem secundária, a começar pelo “mau Doutor” e prosseguindo talvez pelos colegas de banda e pelos “hipsters” que o acompanham a certo ponto.

Afinal de contas, se só a vida deste homem daria uns 3 filmes, impossível seria retratar o resto do mundo com a maior das complexidades. Em todo o caso, face à competição direta e mais académica – no seu próprio campeonato de “biopics” portanto – Love & Mercy merece toda a reverência que está já a ter.

O melhor: Termos um retrato à altura do grande ecrã e da figura icónica aqui retratada. Temos cinema aqui, por outras palavras.
O pior: algumas caracterizações secundárias, ainda assim melhores que muitos dos parceiros do mesmo género.


André Gonçalves

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