Sexta-feira, 19 Abril

«San Andreas» por Hugo Gomes

O subgénero dos chamados filmes-desastre viveu o seu apogeu em pleno anos 70 (Earthquake, de Mark Robson vem automaticamente à memória), mas atualmente parece estar reduzido à escola de Roland Emmerich. Visto como um pretexto para uma exposição gratuita de CGI, com mais interesse em “abanar” o box-office mundial do que propriamente presentear o espectador com novas plataformas e experiências cinematográficas, San Andreas é talvez mais um exemplo dessa mesma “escola”, que tirando o seu pano de fundo pedagógico– a falha de Santo André e as suas placas tetónicas – é de curto rastilho sem razão alguma para a sua existência.

“O maior terramoto que o Mundo alguma vez sentirá”. É assim que esta aventura tecnológica vende-se de forma narcisista, oferecendo em pleno verão a enésima mostra de efeitos visuais, onde o fator humano é praticamente nulo. Se Emmerich minou o seu pretensioso e espalhafatoso 2012 com um humor algo “camp”, com San Andreas nada disso acontece. É tudo levado a sério, mesmo que a sua intriga secundária – a reconciliação de uma família fragmentada – seja involuntariamente risível e dramaticamente fracassada. Aqui a destruição é abundante, as vitimas amontoam-se, mas nada é verdadeiramente sentido. Para tal entra a dita linguagem de videojogo que muitos dos grandes “blockbusters” de verão parecem ter adquirido, aquele excesso de grafismo, o qual se nota mais nas mirabolantes cenas de destruição que procuram mais impressionar o espectador do que fazê-los sentir na iminência do perigo e do caos a nível humanitário.

Ora este massacre em massa levado a cabo por estes processos tecnológicos revela-se ineficaz em conduzir as suas personagens. Se Dwayne Johnson, o ex-wrestler The Rock, salienta ao mundo inteiro que é um Schwarzenegger desta nova geração, o resto está longe de não enfadar. Carla Gugino nunca consegue concentrar-se dramaticamente, seguido um desempenho em claro overacting, Alexa Daddario está mais preocupada em ser uma nova Megan Fox do que propriamente uma Jennifer Lawrence, e Ioan Gruffudd é um antagonista caído de paraquedas com direito a castigo divino e tudo. Já Paul Giamatti é o sismólogo que tenta alertar uma nação inteira para a eventual catástrofe, credibilidade apenas alcançada quando proclama as previsíveis palavras “God be with you”.

No final, tudo soa como um tributo à coragem com que um país traumatizado consegue ser forte na sua superação da dor e dos ataques de que fora alvo (neste caso foi a Natureza, mas a alusão é muito ao 11 de setembro). Mais outro lugar-comum apresentado: essa esperança é dignificada com um abanar de uma bandeira ao vento. É por estas e por outras que temos todos que dar razão ao último filme do cineasta filipino Brillante Mendoza: enquanto o “Mundo” vê telenovelas com “heróis” de velha escola, as verdadeiras catástrofes acontecem, mas ninguém parece querer saber disso.

O melhor – Os efeitos visuais
O pior – É levado demasiado a sério, mas é um exercício cujo resultado é tudo…menos sério

 


Hugo Gomes

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