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A Lei do Mercado: pagar as contas, a cruz diária

Se O Último dos Homens (1924), de F.W. Murnau, fosse dirigido nos tempos de hoje, dificilmente se conseguiria contornar a situação do trabalho precário e a natureza do mercado em que se vive. Em La Loi du Marché somos remetidos a essa “medida de homens”, situações caricatas que despoletariam gargalhadas nos espectadores se não fosse o facto de tudo o que se encontra encenado no grande ecrã ser fiel à real natureza do mercado de trabalho.

Vincent Lindon cria essa figura submissa a uma sociedade extremamente avaliadora, competitiva e austera. Um homem com anos de trabalho que depois de confrontado com o despedimento inicia uma demanda a um novo emprego, ou um trabalho que simplesmente lhe permita o pagamento das contas. Uma tarefa que não será claramente fácil, mas desesperante e involuntariamente absurda dadas as situações.

O novo filme de Stéphane Brizé é uma prova de cinema verité na sua essência mais formal: um retrato que tão bem poderia ser desperdiçado não fosse o desempenho (e empenho) de Lindon em atribuir veracidade à sua personagem e a arrastar a sua situação para a credibilidade.

Contudo, ainda se sente um acentuar do dramatismo quando La Loi du Marché tenta esboçar um ambiente igualmente desesperado e sufocante da vida pessoal da personagem de Lindon, isto através de um filho deficiente. Esta inserção no enredo poderia resultar na produção de uma crítica social mais vincada, mas apenas acrescenta drama ao nível telenovelesco, como se as situações que Lindon vive no quotidiano já não fossem dramáticas o suficiente.

No final, é ainda jogado o moralismo como a carta trunfo, onde Stéphane Brizé parece querer demonstrar os seus ares à la Laurent Cantet. Em suma: o ator brilha, o filme tem os seus momentos.