Quinta-feira, 25 Abril

«Les Anarchistes» (Os Anarquistas) por Paulo Portugal

O jovem francês Elie Wajeman regressa à Cannes com Les Anarchistes, selecionado para a abertura da Semana da Crítica, três anos depois de se ter estreado com Aliyah, na Quinzena dos Realizadores em 2012. Tal escolha acabava por aumentar ainda mais a nossa expetativa, até porque incluía no elenco a endiabrada Adèle Exarchopoulos que nos seduziu a todos há dois anos com o despojado papel em A Vida de Adèle, de Kechiche. O problema é que Wajeman limita-se a mostrar uma visão romanceada do movimento que singrou no final do século XIX, em 1899, na postura de um eficiente filme de época, sem nunca levantar a bandeira da revolução.

A ideia, segundo o realizador revela nas notas de produção do filme, deriva do seu desejo de colocar um ‘infiltrado’ num meio que não é o seu. No caso, a personagem defendida pelo experiente Tahar Rahim, um operário cujo domínio da prosa fica debaixo da asa de um agitador que o introduz no movimento anárquico parisiense. E será aí que conhecerá a personagem de Adèle, uma poetisa libertária que o seduz. Apesar de conseguir afirmar o seu empenho por este ideal romântico em que as regras são abandonadas por uma liberdade ‘avant la lettre‘, o seu otimismo logo choca com os aspetos mais burgueses do mesmo.

Ficamos com a sensação de que Wajeman acaba por desbaratar a oportunidade. Não necessariamente por falhar a revolução, mas por não se atrever a mostrar algo mais do que a ação direta do movimento após a Comuna de Paris e no anarcossindicalismo. Sobretudo quando em redor do filme o grito ecoa forte na realidade atual europeia sublinhada até pelas recentes opções políticas francesas. E logo Wajeman, que é filho de um dos filhos maoístas do Maio de 68, conforme nos revelou na nossa entrevista.

Acabou por esboçar alguma novidade na atrevida escolha musical num corte destoado com o que vemos na fita. Mas sem um fio vibrante, a opção acaba por funcionar no inverso.

E Adèle? O filme começa com ela e, por momentos, seguimos na ilusão de uma pequenina revolução anarquista. Apesar de tudo, quando lê a sua carta anarquista, apetece-nos aderir à sua causa. Fica assim um filme sem aquela alma que se antevia. Pena.

O melhor: Adèle, apesar de tudo…
O pior: O formato de um filme de época sem a alma que reivindicava


Paulo Portugal

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