Quinta-feira, 25 Abril

«The Water Diviner» (Uma Promessa de uma Vida) por Hugo Gomes

Não. Não vamos encontrar aqui nenhum realizador escondido em Russell Crowe e este seu The Water Diviner (com o ridículo titulo português de Uma Promessa de uma Vida) é tudo menos uma revelação de talento oculto. O que temos aqui é sim um amontoado da experiência do ator em projetos universalmente académicos quase feitos por vista grossa aos tão cobiçados prémios da Academia. Por outras palavras, pelas grandes produções pelas quais é mundialmente conhecido.

Crowe desempenha Connor, um homem que vive nas áridas planícies da Austrália, o qual possui um dom: o de encontrar água em locais remotos e desérticos. A água, essa fonte vital, é mais tarde utilizada para a agricultura e o desenvolvimento do seu vilarejo. Porém, ele é também um homem perturbado pela tragédia, visto que perdeu os seus três únicos filhos na batalha de Gallipoli (Turquia), e a sua mulher, que se suicidou face a este torturante pesar. Sem mais nenhum objetivo na sua vida, Connor segue para a Turquia em busca dos corpos dos filhos, a fim de dar um funeral digno ao lado da sua mãe.

Eis um enredo que tinha tudo para emocionar qualquer espectador, o que não consegue, devido à dependência a uma linguagem cinematográfica demasiado classicista. The Water Diviner tem ainda outro “pecado”, o de perder a emoção por consequência de um argumento mais interessado em focar os factos históricos do que meramente em desenvolver personagens. Este é um produto bem presenteado, mas anorético na sua intriga e conceção. Nem sequer Russell Crowe esforça-se em transmitir interação para com a sua personagem, e muito menos em conduzi-lo na sua primeira realização cinematográfica (há demasiadas aspirações a David Lean, contudo, sem o dito fulgor épico). Se é bem verdade que já assistimos a piores trabalhos de direção entre os nomeados aos Óscares, é indiscutível afirmar que The Water Diviner não é mais que um filme obsoleto para o seu tempo, mesmo que visualmente cativante.

Se a primeira sequência convence, curiosamente a única que parece invocar o espírito bélico, já o resto é “palha com fartura”, regalando os olhos para os vencidos lugares-comuns e criando espaço para romances impossíveis. Mas falando em Gallipoli, é preferível rever o retrato a nu concebido pelo cineasta Peter Weir, no seu homónimo filme de 1981, protagonizado por Mel Gibson, que sensivelmente transmite os horrores dessa batalha feroz. Mas claro, se preferirem os habituais toques hollywoodescos e Russell Crowe, visto que chama a atenção a muita gente, bem podem ficar com The Water Diviner – a promessa que nunca vingou

O melhor – Os valores técnicos
O pior – nunca conseguir sair do registo de academismo


Hugo Gomes

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