Quinta-feira, 18 Abril

«Il ragazzo invisibile» (O Rapaz Invisível) por Jorge Pereira

 

É curiosa a incursão de Gabriele Salvatores (Mediterrâneo, Não Tenho Medo, Quo Vadis, Baby?) num filme de género incomum na Europa: o cinema dos super-heróis. Aqui seguimos Michele Silenzi (Ludovico Girardello), um rapaz frequentemente maltratado pelos colegas e ignorado pela rapariga que gosta. Em casa as coisas não são melhores pois, apesar de ter o apoio da mãe (Valeria Golino), sente um vazio difícil de ultrapassar: a ausência paterna.

Um dia, e após adquirir um fato de um alegado super-herói numa loja chinesa, o rapaz ganha o poder da invisibilidade, passando por todas as fases comuns no género: a descoberta; o que fazer com o dom; a responsabilidade que esses poderes trazem (lá diria o tio Ben de Peter Parker).

Mas apesar de tudo isto parecer mais um filme de um super-herói saído dos comics norte-americanos, e de existirem claras referências a X-Men e Batman, este Rapaz Invisível de Gabriele Salvatores mantém muitas das marcas que caracterizam o cinema de autor, não só pela incursão nas questões sociais ligadas a um tipo de jovens com a auto-estima no mínimo, como também naquilo que nos faz ser o que somos (isto na figura dos rapazes/vilões que abusam sistematicamente dele).

Aliás, a escolha do poder da invisibilidade não é certamente inocente ou uma cópia de Susan “Sue” Storm Richards do Quarteto Fantástico. Há claramente um toque metafórico ao mostrar um anti-herói da sua geração, ou seja, alguém que ganha o poder de passar despercebido numa idade onde tudo o que mais se deseja é ser visível, popular e conquistar a menina do colégio.

A montagem, os efeitos visuais e a banda-sonora são outras formas do filme se afastar do típico blockbuster da Marvel ou DC, preferindo-se uma abordagem mais ligada ao cinema independente norte-americano, longe do frenesim das destrutivas sequências de ação e dos efeitos visuais mirabolantes, preferindo antes focar-se na interação das personagens, na narrativa e em pequenas e deliciosas referências cinematográficas (Até GremlinsJack Burton nas Garras do Mandarim vêm à nossa cabeça).

Nisto, e apesar de não ser um filme que marcará o espectador, é um trabalho bem conseguido, com humor e que nunca se leva muito a sério. Para além do mais, se «escavarem» bem, vão perceber que tudo é mais complexo do que a camada superficial aparenta.

O Melhor: Os  temas do cinema indie mascarados em personagens frequentes nos blockbusters
O Pior: Muita gente vai confundir referências cinematográficas e homenagens com plágio e falta de criatividade


Jorge Pereira

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