Quinta-feira, 25 Abril

«Leijonasydän» (Coração de Leão) por Jorge Pereira

 

Tal como em Adivinha Quem Vem Jantar (1967), Teppo (Peter Franzén) tem uma grande surpresa. Apaixonado por uma bela loura com todos os traços nórdicos que aprecia, Sari (Laura Birn), ele vai descobrir que esta tem um filho mestiço, fruto de uma relação anterior com um homem de raça negra. Crente em ideais habituais da extrema-direita europeia, ou seja, uma combinação de ideias nazis com um nacionalismo localizado (é daí que vem o Leão do título, ou seja, o símbolo do Brasão de armas da Finlândia, que serve também como tatuagem), Teppo vê-se assim entregue a um dilema: seguir as ideias ou o amor; escolher a responsabilidade que pensa assumir com o seu país e com a própria família (na imagem de um irmão extremista ao seu nível), ou seguir um novo rumo?

O tema do radical de direita confrontado com a vida e certos factos que fazem balançar o seu génio e princípios não é de todo novo no cinema e basta pensar em América Proibida (1998) ou O Crente (2001). Dome Karukoski, o realizador, sabe disso, e após filmar a comédia Lapland Odissey embarca num drama extremamente desafiante pelas dificuldades inerentes em não cair na telenovela fácil e chorona ou no crowd pleaser bonitinho feito para ganhar o prémio do público nos festivais.

Karukoski atravessa a narrativa e mete algumas vezes os «pés na lama», mas prossegue sempre o seu caminho sem cair excessivamente em nenhuma das tentações referidas. Compreenda-se que este era um percurso minado, até porque dificilmente o espectador comum aceita um protagonista com estes ideais, mesmo que a certo ponto ele os comece a colocar em xeque. Isto claro, se olharmos para as coisas com um olhar cínico, daqueles que crêem que apesar de ouvirem repetidamente a frase do «amor cura tudo», sabem que não é bem assim. Felizmente, o cineasta sabe igualmente disso e não tem pejo em mostrar uma dureza de procedimentos, em especial mantendo os aspectos vis e cruéis do preconceito, sendo ajudado por um leque de atores bem entrosado, no qual se destaca o duo Birn e Franzén, que já tinham trabalhado juntos na adaptação ao cinema do best-seller A Purga.

No final temos assim um filme bem conseguido, que embora não brilhe por aí além, nem seja uma verdadeira obra-prima, tem suficiente vigor e força para não ser apenas e só mais um filme sobre bons valores tratados como adoçante moral para o espectador lacrimejar.

O Melhor: O elenco, os dilemas, a fuga aos lugares comuns de uma narrativa fácil de se transformar num filme chorão
O Pior: Sente-se um filme apressado e que para funcionar melhor deveria ter um estudo e evolução das personagens mais aprofundado


Jorge Pereira

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