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«Leviathan» (Leviatã) por Duarte Mata

Tendo dado mais que falar que o vencedor da Palma d’Ouro, Sono de Inverno, ou até mesmo que o último Godard, é com grande antecipação que se recebe o vencedor do prémio de melhor argumento da última edição de Cannes, Leviatã.

E é mesmo no guião que reside a sua força, num enredo que envolve a ganância de um político déspota (apetece dizer Putiniano e não excluímos a possibilidade que seja a personificação do presidente russo) em adquirir o terreno habitado por uma família desfavorecida e emocionalmente deteriorada. Mas, cinema define-se mais que pela história, contam principalmente os meios e dispositivos cinematográficos a que recorre. E aí a coisa já não corre tão bem. Não se pede que Andrey Zvyagintsev seja um novo Tarkovksy (a imprensa britânica é que o tem defendido injustamente como tal), mas Leviatã é meramente um melodrama familiar de fácil digestão, filmado por vezes com paixão (digam lá se a imagem que está no poster não é do caraças?), outras com uma mera vontade de expor e despachar cada linha de diálogo contida na cena.

Não está nada má enquadrada a criatura bíblica do título e a carga simbólica que leva aplicada à Rússia (a relação indivíduo/Estado, os limites inatingíveis da corrupção e poder político, a hipocrisia na riqueza da Igreja Ortodoxa), mas, nem ela chega para justificar o desfecho trágico e doloroso, bem como a quantidade de perguntas que ficam em aberto, neste enredo antipático com qualquer uma das suas personagens e onde todos parecem querer o mesmo.

O melhor: O argumento.
O pior: A vulgaridade dos dispositivos cinematográficos a que recorre.


Jorge Pereira