Maziar Bahari, jornalista iraniano-canadiano, residente em Londres e repórter da Newsweek, estava no Irão em 2009, a acompanhar as eleições presidenciais que reconduziam Ahmadinejad, quando estalou a contestação e os protestos de rua dos apoiantes de Mousavi, o candidato da oposição, após a comunicação dos resultados. As manifestações deram início a uma dura campanha de repressão política no país.
Bahari foi preso durante 118 dias, sob interrogatório e tortura. Na base das acusações estava uma rábula do Daily Show de Jon Stewart, filmada em Teerão, em que Bahari é entrevistado e lhe perguntam como tem corrido a missão de espionagem a soldo do ocidente.
O caso correu mundo, houve declarações de solidariedade e pressões diplomáticas para que o jornalista fosse libertado.
Jon Stewart estreia-se agora na realização com a adaptação do livro “Then They Came for Me” que Bahari entretanto escreveu sobre os quatro meses de cativeiro. O resultado é a muitos níveis uma desilusão. As personagens são pouco aprofundadas, demasiado planas e literais, desaproveitando o talento de Gael García Bernal no papel do jornalista detido e o potencial dramático do enredo. Nalguns momentos o espectador poderá sentir estar a assistir a uma extensão pretensiosa das peças televisivas do programa diário de Stewart, com infografias a surgir no ecrã ou recordações dos personagens projectadas sobre as paredes dos edifícios.
Apesar da bonomia das intenções, do tributo merecido que qualquer vítima de abuso de poder e prepotência de Estado merece, algum do tom caricatural dos programas de Stewart transparece na condução da trama, demasiado apoiada em estereótipos culturais que, ironicamente, não são património exclusivo dos países do médio oriente. Não é preciso muito para ser detido pelos serviços secretos americanos à chegada ao aeroporto. Obviamente, Jon Stewart sabe isso, basta ver o Daily Show. Rosewater pretende ser mais sério que o registo habitual de Stewart, mas acaba por morrer algumas milhas antes de chegar à praia.
Tiago Figueiredo
