David Cronenberg está longe dos primeiros passos da sua carreira, em que era um dos principais (e melhor sucedidos) exploradores do body horror, onde as personagens que analisava física e psicologicamente, sofriam as suas metamorfoses, resultando num estudo frio e alegórico sobre a fragilidade do ser humano. Tal estudo resultou nalguma das suas melhores películas, como Videodrome – Experiência Alucinante ou o mais célebre A Mosca, ainda hoje clássicos do género.
Ora, sucede que, desde há uns anos para cá que o cineasta canadiano pôs “o corpo” de parte para deixar prevalecer “a palavra”. Ainda desagradáveis e nalgum sentido dementes, todas as transformações por que passam as suas personagens ocorrem a um nível menos gráfico, mas mais introspetivo (verbalizável é a palavra certa), o que tem resultado numa forte polarização no que toca à recepção do seu trabalho (veja-se o resultado de há dois anos, Cosmopolis).
Em Mapas Para as Estrelas, a veia de entomologista recai sobre atores mimados, argumentistas frustrados, adolescentes neuróticas, entre poucos outros casos que caraterizam e definem algumas das vedetas de Hollywood. Um filme mosaico inspirado nos primeiros trabalhos de Paul Thomas Anderson (que acaba por ser referido), num argumento que tenta estabelecer ligações forçadas e a um nível futilmente metafísico entre as mesmas (o fogo, a família e, claro, o cinema).
Cronenberg filma de forma apressada e pouco original, dando, por vezes, um espaço abrangente aos atores – Robert Pattinson num curto, mas proveitoso desempenho e, acima de tudo, Julianne Moore (ironicamente, uma das vedetas de Anderson) a representar uma atriz traumatizada e atormentada por um abuso de infância. Mas, seja que cena for, o realizador não sai de um registo formal e limita-se a um formato televisivo, motivado apenas em dar imagens a um script insonso e com elementos sobrenaturais embaraçosos (e, ainda por cima, plagiados) da autoria de Bruce Wagner, argumentista de Pesadelo em Elm Street 3.
Ora, o filme põe definitivamente o seu veneno nas vedetas americanas, sendo aqui retratadas mais adaptações de exemplos concretos que, propriamente, fição. Mas, convenhamos, Showgirls, O Jogador, Mulholland Drive? É fácil arranjar casos semelhantes ao objetivo e que estão a anos-luz do que é, sem dúvida, o pior e mais despropositado filme de Cronenberg.
O melhor: Moore, Pattinson e algumas referências cinéfilas.
O pior: O formato televisivo com que é filmado, o argumento insonso e Mia Wasikowska.
Duarte Mata