Quinta-feira, 28 Março

«Maps To The Stars» (Mapas para as Estrelas) por Duarte Mata

David Cronenberg está longe dos primeiros passos da sua carreira, em que era um dos principais (e melhor sucedidos) exploradores do body horror, onde as personagens que analisava física e psicologicamente, sofriam as suas metamorfoses, resultando num estudo frio e alegórico sobre a fragilidade do ser humano. Tal estudo resultou nalguma das suas melhores películas, como Videodrome – Experiência Alucinante ou o mais célebre A Mosca, ainda hoje clássicos do género.

Ora, sucede que, desde há uns anos para cá que o cineasta canadiano pôs “o corpo” de parte para deixar prevalecer “a palavra”. Ainda desagradáveis e nalgum sentido dementes, todas as transformações por que passam as suas personagens ocorrem a um nível menos gráfico, mas mais introspetivo (verbalizável é a palavra certa), o que tem resultado numa forte polarização no que toca à recepção do seu trabalho (veja-se o resultado de há dois anos, Cosmopolis).

Em Mapas Para as Estrelas, a veia de entomologista recai sobre atores mimados, argumentistas frustrados, adolescentes neuróticas, entre poucos outros casos que caraterizam e definem algumas das vedetas de Hollywood. Um filme mosaico inspirado nos primeiros trabalhos de Paul Thomas Anderson (que acaba por ser referido), num argumento que tenta estabelecer ligações forçadas e a um nível futilmente metafísico entre as mesmas (o fogo, a família e, claro, o cinema).

Cronenberg filma de forma apressada e pouco original, dando, por vezes, um espaço abrangente aos atores – Robert Pattinson num curto, mas proveitoso desempenho e, acima de tudo, Julianne Moore (ironicamente, uma das vedetas de Anderson) a representar uma atriz traumatizada e atormentada por um abuso de infância. Mas, seja que cena for, o realizador não sai de um registo formal e limita-se a um formato televisivo, motivado apenas em dar imagens a um script insonso e com elementos sobrenaturais embaraçosos (e, ainda por cima, plagiados) da autoria de Bruce Wagner, argumentista de Pesadelo em Elm Street 3.

Ora, o filme põe definitivamente o seu veneno nas vedetas americanas, sendo aqui retratadas mais adaptações de exemplos concretos que, propriamente, fição. Mas, convenhamos, Showgirls, O Jogador, Mulholland Drive? É fácil arranjar casos semelhantes ao objetivo e que estão a anos-luz do que é, sem dúvida, o pior e mais despropositado filme de Cronenberg.

O melhor: Moore, Pattinson e algumas referências cinéfilas.
O pior: O formato televisivo com que é filmado, o argumento insonso e Mia Wasikowska.


Duarte Mata

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