Sábado, 20 Abril

«Serena» por Roni Nunes

As paisagens montanhosas a representar a Carolina do Norte (as filmagens foram na Europa Central) fornecem a moldura para esta história de paixões, ódios, homicídios e outros regalos. O contexto espaço/temporal é o de uma indústria madeireira na região, pós-crise da Bolsa de Valores de 1929, onde o ousado e endividado George Pemberton (Bradley Cooper) luta bravamente contra os empréstimos a vencer no banco enquanto tenta caçar uma pantera que insiste em permanecer na obscuridade da floresta. O local, povoado pelos seus lenhadores e famílias, é sacudido pela recém-chegada esposa de George, Serena (Jennifer Lawrence).

A amoralidade, a corrupção e os fatalismos desta história sombria devem estar na base da atração aos atores principais, pois este tipo de obra serve sempre para as estrelas mostrarem talento, adquirirem/manterem a respeitabilidade e, com sorte, dar uma piscadela de olhos aos Oscars. Neste caso, nada disto vai acontecer à dupla principal naquele que é o mais importante passo em falso de ambos numa carreira normalmente em alta.

O argumento de Christopher Kyle, que volta a assinar um guião dez anos depois do igualmente falhado Alexandre, o Grande,onde ajudou o genial Oliver Stone a fazer um dos seus piores filmes, é um dos principais responsáveis pelos desacertos. A isto soma-se um trabalho miserável da realizadora dinamarquesa Susanne Bier, que apresenta o seu segundo (e talvez último) projeto em Hollywood depois de Tudo o que Perdemos, de 2007.

A trama, baseada num livro de Ron Rash, não tem um conflito principal, mas várias ramificações que vão construindo um quadro de amoralidade da América profunda nos seus ideais supremos de liberalismo e na sua arrogância intrínseca. Mas a crítica falha na mesma proporção em que todo resto afunda: Bier não consegue, nem por um segundo, agarrar no filme e entregar ao espectador mais do que uma sucessão episódica de factos que deviam, em teoria, surpreender quem assiste, mas que raramente escapam ao cinzento geral do registo.

Este é um enredo ao estilo de John Steinbeck, que usou em alguns dos seus livros o mesmo pano de fundo histórico e desenvolveu personagens no limite do anti-heroísmo, fatores que certamente estão na base da fascinação dos envolvidos pelo projeto. Mas, dada à inépcia de Bier, esses seres sem moral não são ambíguos, mas apenas pessoas desprezíveis que enlameiam-se tanto literalmente quanto no vácuo narrativo. O melhor exemplo é a relação do par central, construída com uma rapidez elíptica alucinante e que, dada a fragilidade do teor dos vínculos estabelecidos, faz com que as ações de Serena no desenlace final constituam uma verdadeira aberração em termos de credibilidade.

O melhor: Bradley Cooper
O pior: o argumento e a realização


Roni Nunes

 

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