Sexta-feira, 19 Abril

«The Hunger Games: Mockingjay – Part 1» (The Hunger Games: A Revolta – Parte 1) por Hugo Gomes

A adaptação de uma série literária de teor juvenil não tem que necessariamente marcar uma presença inconsequente no grande ecrã. Prova disso é The Hunger Games, de Suzanne Collins, um futuro distópico que tanto concentra os elementos necessários (e quase obrigatórios) do território adolescente, mas que no Cinema tem adquirindo um “corpo único” ao mesmo tempo que consolida o entretenimento (a visão futurista de Collins é mantida) com uma espécie de provocação político-social digna de George Orwell, que tão bem se enquadra nos tempos de hoje.

Depois de um filme passageiro mas de grande êxito em 2012, Gary Ross (realizador) é substituído por Francis Lawrence à última da hora, mas o seu surgimento parece não ter sido em vão. Em parceria com um argumento de Michael Arndt (Toy Story 3) e Simon Beaufoy (Quem quer ser Bilionário?), The Hunger Games – Em Chamas (titulo do segundo filme) conseguiu resgatar do subliminar das paginas do livro e transformá-las numa ficção identitária com o contexto político-social da atualidade. Ideia reforçada e habilmente provocatória neste terceiro filme (a primeira de duas partes finais,) que aufere de uma aura ainda mais negra, mais adulta e menos otimista, a luta revolucionária de Katniss Everdeen (a personagem de Jennifer Lawrence) para perder os seus rígidos contornos de romantização adolescente e torna-se sério até à medula, ao mesmo tempo que se “explode” em emanar uma crítica social que tem como alvo o próprio país que produziu a respetiva obra.

Obviamente que as campanhas promocionais e o eventual êxito por parte da sua faixa etária “alvo” tentarão colocar esta atmosfera em segundo plano, mas Francis Lawrence brinca com o próprio espectador e tem como cúmplice um novo par de argumentistas, Peter Craig e Danny Strong, remetendo como subenredo aquilo que, no geral, o público de The Hunger Games mais valorizou – o romance. O romance, esse, que auxilia apenas como um elemento de acentuação aos dramas das personagens, ao fortalecimento da causa que serve de condução narrativa e como margem para a construção da figura antagonista – Donald Sutherland, a libertar cuidadosamente as suas garras.

Esta é a “provocação” que Francis Lawrence preparou neste caminho para a reta final, um filme cínico do inicio ao fim (no bom sentido revolucionário) que preza ao espetáculo visual e determina as suas personagens como algo mais que figuras emprestadas do imaginário de Suzanne Collins: símbolos de um movimento revolucionário e rebelde, ou como a “boa politica” gosta de apelidar, “radicais”.

Contudo, também vale a pena sublinhar um dos catalisadores do êxito do franquia, Jennifer Lawrence, a demonstrar mais uma vez que é uma protagonista de peso detentora de uma emotividade explosiva. Por outro lado, este é um dos últimos filmes do ator Philip Seymour Hoffman, que apesar de possuir aqui uma interpretação pouco relevante, constitui um secundário de peso ao lado de Julianne Moore, Woody Harrelson e a “estrela” Elizabeth Banks.

Mais do que um mero filme para adolescentes, The Hunger Games: A Revolta Parte 1 funciona como um dos entretenimentos cinematográficos mais entusiasmantes do ano. Como é bom, ao serviço desta quadra, sentirmos um cinema mais aliciante, exigente e pensado do que somente “um desfilar” entre as massas.

O melhor – Ser mais adulto do que aparenta
O pior – uma ou outra personagem mais descartável


Hugo Gomes

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