Sexta-feira, 19 Abril

«John Wick» por Jorge Pereira

Sem conseguir encontrar jovens capazes de dar conta do recado, Hollywood parece ter-se rendido – no que toca a filmes de ação fora das distopias juvenis e adaptação de comics – a ir buscar quarentões (Mark Wahlberg, Jason Statham), cinquentões (Denzel Washington, Tom Cruise) e até sexagenários ( Liam Neeson) para o protagonismo. Nada contra, até porque a maioria dos nomes citados têm revelado perante as audiências que foram boas escolhas.

Agora regressa Keanu Reeves (50 anos), o qual nos anos 90 deu o que falar em filmes de ação como Speed e Ruptura Explosiva e que procura aqui contornar uma série de fracassos comerciais e voltar a ser o que já foi, especialmente depois de The Matrix, filme que para sempre marcará o seu percurso no cinema.

Nisto chegamos a John Wick, uma nova tentativa de lançar um franchise, tendo como ponto de partida um ex-assassino (Reeves) que terá de voltar aos maus hábitos após o filho (Alfie Allen) de um poderoso gângster o espancar, roubar e matar o seu cão (que era a última recordação deixada pela sua companheira, que faleceu há poucos dias).

Embora desde o primeiro momento o filme se revele um «no-brainer» sem grandes pretensões para além de entreter com a sua ultra violência e humor, John Wick apenas sai do universo total dos clichés dos filmes de ação motivados pela vingança em alguns tiques da sua estética (onde incluímos também alguns planos).

David Leitch e Chad Stahelski, aqui em estreia na realização, fizeram a sua carreira em Hollywood trabalhando como duplos (o segundo chegou a substituir o malogrado Brandon Lee em O Corvo) e isso sente-se na energia, pulso e ritmo imparável das cenas de ação. Infelizmente, até estas se tornam redundantes e repetitivas à medida que o tempo passa, sendo assim mais fácil escapar à distração pirotécnica e detetar uma narrativa gasta e que pouco de novo traz para o espectador, para além da «coolness» do nosso herói ser um verdadeiro «badass» (e nem isso é muito inovador).

Repare-se que Wick é uma espécie de Chuck Norris (e os seus factos) no universo dos assassinos. Uma lenda viva e «adormecida» pelo amor a uma mulher. Este é o homem que uma vez matou três pessoas num bar com um lápis (provavelmente o único que o argumentista tinha para escrever o guião). Ele não é o bicho papão, mas o homem que se envia para assassiná-lo. Até o grande vilão do filme, um russo (quem mais?), interpretado pelo sueco Michael Nyqvist, claramente tem medo dele, espancando no início do filme o seu filho, o tal que atacou, roubou e matou o cão de Wick.

Munido de armas e artes marciais – e fundindo as duas em diversas sequências de “Gun Fu” (algo muito característico do cinema de Hong Kong que teve em Equilibrium um dos expoentes máximos no ocidente) -, Wick parte para um verdadeiro banho de sangue, não olhando a meios, até encontrar o seu alvo. Pelo caminho, e com one liners à mistura (sem grande impacto), até entramos num curioso universo paralelo dos assassinos contratados, um meio com regras e moralidades muitos próprias, onde todos se conhecem (ao velho estilo dos Westerns), e onde até surgem os subaproveitados atores secundários Willem Dafoe, Ian McShane e Adrianne Palicki.

Assim, e no cômputo geral, John Wick até pode soar a lufada de ar fresco no panorama do cinema atual de ação (entregue a comics, sagas juvenis e muitas sequelas) mas, se olharmos bem de perto, é uma experiência que acrescenta muito pouco ao que marcou o seu género e os filmes de vingança.

O Melhor: Embora caia rapidamente na redundância, algumas sequências de ação (como na discoteca) são bem conseguidas.
O Pior: Os diálogos e enredo são muito pobres


Jorge Pereira

Notícias