Quinta-feira, 28 Março

«Queen & Country» (Pela Rainha) por Jorge Pereira

27 anos depois do seu Hope & Glory (Esperança e Glória), John Boorman voltou ao campo das experiências pessoais e autobiográficas transcritas para cinema com este Queen & Country (que por cá vai ser lançado como Pela Rainha). O ponto de partida é exatamente o final da obra dos anos 80, quando um grupo de crianças agradecia a Hitler por não ter falhado o bombardeamento à sua escola.

Daí saltamos para uma década mais tarde e voltamos a acompanhar Bill Rohan (Callum Turner a assumir o papel que no original coube a Sebastian Rice Edwards), agora integrado no exército e já sem a ameaça nazi.

O primeiro filme focava essencialmente o olhar infantil (e ingénuo) de Rohan à destruição provocada pelos alemães em Londres e, derradeiramente, na sua ida para uma pequena ilha no meio do Tamisa, onde vivia o rabugento do seu avô. Nesta continuação acompanhamos com maior incidência às suas histórias de caserna, os seus primeiros amores e a sua relação de amizade com o seu melhor amigo, Percy Hapgood, aqui interpretado por um Caleb Landry Jones com uma atuação por vezes excessiva, algures entre um Rupert Grint e um Lee Evans.

É claro que por momentos visitamos também outras personagens do passado, nomeadamente os membros da sua família (mãe, pai, a “louca” da sua irmã agora com dois filhos), numa Inglaterra que se levantara das cinzas e onde a Rainha Isabel II ascenderia ao poder. Estes, sim, eram os tempos de esperança, em que a ameaça mais real estava bem longe, lá nas Coreias, onde o capitalismo e o comunismo lutavam de forma «imoral» pelo seu espaço no mapa mundo.

O resultado deste retorno de Boorman ao mundo de William “Billy” Rowan é ainda assim modesto e extremamente clássico, vingando essencialmente pelo conjunto de personagens curiosas e situações caricatas vividas por si nos tempos da tropa. Se o filme original era emotivo e único na forma como mostrava o tal olhar infantil sobre a guerra, neste tudo não passa de uma amostra descontraída e divertida dos tempos pós-guerra onde se realça, principalmente, a prestação dos atores – em particular dos secundários que, apesar de nunca se destacaram por si só, servem perfeitamente para nos aproximar de forma mais emocional ao material.

Como também não poderia deixar de ser, algo que também não falta nesta «sequela» são as referências cinematográficas, tão frequentes já no filme anterior. Aqui a tendência acentua-se e até a técnica inovadora que Kurosowa, de contar uma história segundo várias perspetivas em Rashomon, serve de tema de conversa.

No final, temos assim um filme pessoal, mas não intimista, divertido, mas nunca uma verdadeira comédia. Na verdade temos aqui um bom princípio pois, agora, até nos interessava ver uma terceira parte da história – aquela onde Billy entraria para a indústria cinematográfica britânica, que nos dois filmes anteriores sempre o acompanha nas margens do Tamisa.

O Melhor: É um filme agradável, divertido e que nos faz desejar um terceiro capítulo
O Pior: Os eventos não têm a dimensão dramática dos ocorridos no primeiro filme e naturalmente a história sofre com isso


Jorge Pereira
(Crítica originalmente escrita em novembro de 2014)

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