Já lá vão duas cinebiografias de Yves Saint laurent, o génio da alta-costura, o eterno lutador pela beleza e a estética sensual. Se a primeira estreada este ano, o homónimo filme de Jalil Lespert com Pierre Niney no protagonismo, limitou-se a ser um esboço esquematizado e bem padronizado da vida da personalidade, o filme de Bertrand Bonello centra-se como um produto intimista do próprio YSL, ou seja, sobrevaloriza o seu estilo visual e de requinte narrativo.

Nesta nova perspetiva, Saint Laurent (o estilista) já é um nome incontornável da Moda. A sua natureza presunçosa e perfecionista leva-o a um trilho ascendente nas suas próprias criações, mas a sua fragilidade emocional impede-o de se converter num “anjo cujo Céu é o direito“. São os relacionamentos amorosos que o lançam para um dilema entre liberdade e conforto, os traumas passados que o assombram e a sua dependência com a droga, bebida e experiências que o transfiguram pouco a pouco, tudo elementos presentes nesta cinebiografia embebida com a personalidade do próprio Saint Laurent.

Nunca um desfile de moda foi tão bem encaixado no cinema. Bonello teve a feliz decisão de narrar sob constantes split-screens didáticos. O mesmo método narrativo é utilizado a certa altura como uma pertinente crítica silenciosa à burguesia envolta deste movimento “artístico”, onde são conjugados sequencias de diversas coleções de YSL com alguns dos momentos mais marcantes a nível social desses mesmos anos. Todavia, não é apenas visualmente que Bonello dispõe o split-screen. Ele invoca-o a nível narrativo,  ignorando qualquer gesto de esquematização, apenas sublinhado, não só a história de vida do estilista, mas a sua natureza, alma e “santificação”.

Obviamente o resultado desta biopic não seria possível se o protagonista não o auxilia-se. Gaspard Ulliel, que fracassou em 2007 ao vestir a pele de Hannibal Lecter, é explicito no seu trabalho, não apenas de interpretação mas de prestar uma densidade emocional e dramática à figura que representa. E mesmo que o seu mundo ilustrado ceda demasiada vezes à figuração.

Saint Laurent (o filme) preza pelo triunfo em fugir do convencionalmente formatado biopic e tal como as anteriores obras de Bonello, é eficaz em transmitir a sexualidade com tamanha naturalidade para com o seu quotidiano. Assim sim!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
saint-laurent-por-hugo-gomesO melhor - Gaspard Ulliel, a realização de Bertrand Bonello e o escape ao produto esquemático O pior - O filme de Jalil Lespert ter estreado primeiro