Terça-feira, 16 Abril

«Rio Eu te Amo» por Roni Nunes

A julgar pela sorte do Rio de Janeiro nas salas de cinema em Portugal, é caso para alinhar com Wagner Moura num dos momentos deste filme e dizer: “cidade maravilhosa o c*”! De facto, se há uma semana estreou o espúrio Lixo, nesta surge essa coletânea de 11 realizadores de várias nacionalidades que dão sequência à série Cities of Love – onde Paris e Nova Iorque já receberam as devidas homenagens. Se o maior cliché a propósito destas obras coletivas é dizer que existem altos e baixos, é porque não há mesmo muito mais a dizer – exceto que o agravante aqui é que a maioria dos episódios pende mais para a insignificância.

Os brasileiros Fernando Meirelles, Carlos Saldanha, José Padilha, Andrucha Waddington e Vicente Amorim (aliás, um dos méritos involuntários deste projeto é mostrar a vitalidade da atual geração do cinema brasileiro com esta lista de talentos a qual se poderiam acrescentar vários outros) surgem acompanhados de nomes como Paolo Sorrentino e Im Sang-soo, entre outros.

Pese os nomes, estatutos e experiências dos realizadores, Rio Eu te Amo não é um filme para ser levado a sério. Como seria de esperar, assiste-se a um abuso dos planos gerais (por razões óbvias), uma quantidade bem pouco razoável de música e uma coleção de rostos famosos que acentua um caráter de turismo institucionalizado do qual a obra raramente se livra. Por outras palavras, o filme nunca sai do registo de cartão postal com os personagens a fazer figuração.

Entre vários episódios insípidos ou francamente maus (John Turturro, depois de Fading Gigolo, continua a demonstrar que o seu lugar é à frente das câmaras) existe a sombria história de Guillermo Arriaga, fiel aos universos que criou com Alejandro Iñárritu mas sem tempo para maiores voos, e uma bizarra aventura de Sang-soo que junta vampiros com samba – e que aparece quando a paciência do espetador já não é muita.

Há pelo menos dois momentos redentores – ou não estariam ambos relacionados com o próprio Cristo. Numa delas, realizada por José Padilha, Wagner Moura culpa, olhos nos olhos (numa asa delta), a estátua que é o famoso símbolo da cidade pela sua indiferença em relação ao que acontece lá embaixo, dizendo coisas como “tu nunca desce daí, né? Cidade maravilhosa o c*!”

Mas o grande momento só chega no fim, com Nadine Labaki (de E onde Vamos Agora?) a contar a história de um garoto (Cauã Antunes, um menino não profissional escolhido na favela!) que impede uma apressada atriz (a própria Labaki) e seu colega (Harvey Keitel) de usar o telefone público. Motivo: ele está à espera de uma ligação do próprio Jesus. Com graça, humor e imaginação, ela alcança o que nenhum dos outros medalhões conseguiu: aproveitar a 100% as possibilidades de uma curta-metragem.

O melhor: de longe, o episódio de Labaki
O pior: um Rio de cartão postal num projeto que não é para ser realmente levado a sério 


Roni Nunes

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