Sexta-feira, 29 Março

«Horns» (Cornos) por Jorge Pereira

Baseado no livro homónimo de Joe Hill (filho do lendário Stephen King), Horns é um thriller sobrenatural onde não faltam fantasia, mistério, algum horror e muito romance, embora o tom que Alexandre Aja tente aplicar no filme, e que varia entre o muito sério, o delirantemente romântico e o absurdamente surreal, faça de toda esta experiência um híbrido de sensações que nunca verdadeiramente nos consegue convencer, mesmo que tenhamos uma costela bem saliente de fãs de cinema fantástico.

Ig Perrish (Daniel Radcliffe) é o principal suspeito do assassinato da sua namorada, Merrin (Juno Temple), uma jovem por quem desde criança se sente apaixonado. Após uma noite de muito álcool na companhia de uma amiga, Ig acorda literalmente com chifres a saírem da sua testa, percebendo a partir daí que consegue, só com a sua presença, levar as pessoas da sua pequena localidade a confessar os seus pecados e dar-nos o seu lado mais egoísta.

Apesar de Radcliffe e Temple terem atuações acertadas e de demonstrarem bastante química (seria interessante saber o que Shia LaBeouf* faria no protagonismo), Horns sofre acima de tudo pela estranha ausência de pulso do seu realizador que, na busca e variação de géneros e tons, nunca sabe bem transitar ou dosear os elementos de romance, o whodonit e uma sobrenaturalidade com muitos elementos “camp” (em especial no fim).

O resultado está à vista e, apesar de Horns ser um filme esteticamente bem conseguido – Aja demonstra essa capacidade desde Haute Tension –, na verdade nunca nos consegue agarrar emocionalmente e fazer viver e sofrer o mesmo que as personagens do filme. Isto talvez porque uma delas parece ser um espécie de diabo (quer com tiques emo, quer com manias hipsters) e a outra uma versão angelical e ruiva de alguém que quase merece a canonização.

Obviamente que tudo isto tenciona satirizar a própria religião (em particular a de natureza cristã), mas não só. As próprias relações parentais e de amizade são aqui também colocadas em xeque, mas tudo é tão atabalhoado e amontoado que apesar de sabermos que algures aqui está um bom filme, é impossível encontrá-lo.

O Melhor: Há boas ideias no enredo
O Pior: Aja nunca sabe bem transitar ou dosear os diversos elementos e géneros do filme

* originalmente, Shia LaBeouf iria desempenhar o papel principal


Jorge Pereira

 

 

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