Sexta-feira, 19 Abril

«The Boxtrolls» (Os Monstros das Caixas) por Hugo Gomes

 

Há um certo entusiasmo em visualizar animações em stop-motion e confirmar a sua simbiótica artificialidade e esforço de uma equipa em construir algo dinâmico sob meios artesanais e trabalhosos. Trata-se de um processo criativo, felizmente devidamente reconhecido, desde os tempos da Aardman (Wallace & Gromit como duas figuras de referência incontornáveis) até às experiências de Tim Burton e Henry Selick, este último um dos impulsores para a criação da Laika, a produtora exclusiva nestes assuntos que ambiciona competir com um mercado mais exigente através desse mesmo modus operandis.

Os Monstros das Caixas talvez seja uma das maiores das produções do ramo, uma alegoria animada dotada por um cenário pitoresco e caricatural, Ponte de Queijais, onde monstros “encaixados” vivem nos seus esgotos, “aterrorizando” os habitantes dessa mesma cidade hierarquizada. Contudo, tais temores são apenas mitos. Os monstros das caixas são na verdade seres simpáticos, inofensivos e indefesos perante o esquadrão de exterminação liderada por Archibald Snatcher (na versão original com a voz de Ben Kingsley). Cabe agora a Eggs, um rapaz criado por essas mesmas criaturas, levar ao bom senso dos habitantes de Queijais e salvar os seus companheiros, a única família que conheceu.

Os Monstros das Caixas é um enérgico conto que obviamente agradará aos mais novos graças à sua composição imaginativa, divertida (gags engenhosas e percetiveis) e personagens secundárias caricaturais. Porém, serão os adultos que apreciarão ainda mais a obra em questão. Em causa está, não só a estética dos “Os Monstros das Caixas” (baseado no homónimo livro de Alan Snow), mas as sublimares mensagens que esconde entre os seus subenredos; como a corrupção e a luta entre classes sociais recorridos como referências, que decerto serão reconhecidas pelas audiências mais velhas. Para além disso, não esperem uma resolução moralista para o meio daquilo tudo, pelo menos uma que realmente satisfaça a ingénuos amantes de “happy endings“. E nisto poderá soar cruel, cliché ou até deprimente, mas a ausência de focagem nesses pontos alude ao mundo real, onde o desinteresse em mudar o que todos reconhecem ser o incorreto é sempre “atropelado” pelo mediatismo e pela “distração do momento”.

Mais sofisticado em termos visuais que os seus “primos” Coraline e Paranorman, e dotado por uma fértil imaginação, Os Monstros das Caixas apenas fraqueja em não deixar transparecer a sua irreverência tal como havia sido feito nos exemplos já mencionados. Mas não haja dúvidas. Esta é uma proposta fabulista a ter em conta para toda a família.

O melhor – o visual, os personagens secundários e as mensagens subliminares
O pior – Não transcender essas mesmas mensagens subliminares


Hugo Gomes

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