Quinta-feira, 18 Abril

«Escobar – Paradise Lost» (Escobar: Paraíso Perdido) por Hugo Gomes

O célebre barão da droga, Pablo Escobar, tem por fim a sua oportunidade de brilhar no cinema, incorporado por Benicio Del Toro, o secundário de luxo que se converteu num dos mais cobiçados protagonistas. Contudo, em Escobar: Paradise Lost o ponto central não são a sua eventual ascensão e queda, elementos que se faziam adivinhar numa cinebiografia mas, antes disto, algo mais aproximado a um thriller de ação.

Na obra de Andrea Di Stefano (primeira realização depois de experiências como ator e argumentista), o colombiano é só somente um pretexto, um combustível para uma nova ficção. E é aí que encontramos Josh Hutcherson, hoje estrela feita graças ao tremendo êxito do franchising Os Jogos da Fome, que interpreta um personagem fantasma. Designação correta para o efeito, porque supostamente ela é baseada numa fotografia e assim preenchida com especulações e muita romantização trágica.

Esta inclui um canadiano surfista ao serviço de Pablo Escobar que acaba por se integrar na sua grande família graças a um romance platónico (e tosco) com a mais querida sobrinha do traficante colombiano. A partir desta ideia, nasce um filme que tinha de tudo para ser provocador, mas que acaba por desenhar e confirmar a imagem quase cinematográfica e global que se têm dos colombianos. 

Nem para o bem do seu enredo Hutcherson serve como protagonista, sem carisma nem estofo para a condução dos momentos mais dramáticos da fita. Ele é um inibidor do que de bom poderia ter este retrato ambíguo, rematado a três pancadas, despejado em um mundo vivido por estereótipos e sob um vácuo de ideias. Neste desastre que se poderia chamar de filme, Benicio Del Toro é o rei incontestável, construindo um  Escobar com presença, mas demasiado preso às suas influências, um “embrião” de Don Corleone de The Godfather, de Mario Puzo.

Mas nem sequer as suas poucas aparições (visto este ser um filme sobre o narcotraficante) salvam uma narrativa que evidencia mais preocupações em apelar às mais jovens audiências do que em agradar propriamente aqueles que ansiavam descobrir ou redescobrir os signos por detrás de uma das marcantes e incontornáveis figuras dos nosso tempo. Eis uma oportunidade perdida.

O melhor – Benicio Del Toro como Pablo Escobar
O pior – A ideia geral do filme


Hugo Gomes
(Crítica originalmente escrita em setembro de 2014)

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