Sexta-feira, 19 Abril

«The Physician» (O Físico) por Nuno Miguel Pereira

Philipp Stölzl pode ainda não ser um realizador muito afamado, no entanto, já conta na sua filmografia com algumas obras, quase todas com uma mesma característica: filmes de ação, com um ritmo elevado de progressão; nesse aspeto, talvez o exemplo mais conhecido seja O Expatriado, com Aaron Eckhart. Desta vez regressa – ou regressou em 2013 – com um épico medieval, O Físico.

A particularidade principal deste médico é o gosto por longas caminhadas, e por andar mascarado. Contextualizando, Rob Cole (Tom Payne) – o futuro doutor – vê a sua mãe morrer de aparente apendicite, sem que o conseguisse evitar – o que é normal, atendendo a que a história se passa no séc. XI. Ficando órfão, Rob encontra uma espécie de perceptor, interpretado por Stellan Skarsgård, que acumula as funções de barbeiro e médico, ainda que muito rudimentar. No entanto, apesar desse arcaísmo, Rob tenta aprender a arte que o barbeiro pratica. Mais adiante, o barbeiro cega com cataratas e é curado por um judeu – povo naquela época mais evoluído cientificamente. É nessa altura que Rob descobre que a melhor escola de medicina era do outro lado do globo, na longínqua terra regida por muçulmanos, e onde apenas os muçulmanos e judeus eram bem recebidos, partilhando os mesmos hospitais – é inevitável ler esta última frase e verificar a ironia das coisas se as compararmos com o presente. Rob tinha apenas um problema: não poderia ser cristão no oriente. Ora o que é que o cristão tem a mais que o judeu? Exatamente. E Rob lá teve que cortar.

O filme, com duas horas e meia facilmente poderia ser dividido em três atos: a) “A Anita vai ao médico (neste caso ao barbeiro/médico) “; c) A Anita vai à praia (neste caso deserto); c) A Anita vai à escola (de cirurgião). No entanto, e sempre em prol do ritmo alucinante que, efetivamente, este épico tem, são inseridas múltiplas histórias desligadas umas das outras. Uma espécie de Pompeia, mas com muitas saídas de emergência.

Passando o deserto, onde Rob obviamente conhece uma rapariga que voltará a ver mais tarde, chegamos a terras muçulmanas e damos início a uma outra história. Aí surge o professor/médico Ibn Sina (Bem Kingsley) e cria-se uma dinâmica completamente diferente, numa toada sempre bastante energética, com situações novelescas a passarem a um ritmo vertiginoso.

Os atores cumprem mas, verdade seja dita, nem os personagens, nem a história, tenta ir mais para além da superficialidade do observável.

A má integração das sequências apenas é disfarçada devido à velocidade das mesmas, criando a sensação que estamos perante um filme de tirar o fôlego. Na realidade é um filme indicado para todos, mas especialmente para peixinhos dourados e labradores, que não conseguem manter a concentração por mais de 5 segundos, nem será preciso, porque as sequências sucedem-se a esse ritmo.

O Melhor: Tom Payne é um ator que consegur cumprir e Stellan, no pouco tempo que tem, consegue roubar alguns sorrisos.
O Pior: O ritmo elevado serve para camuflar a falta de consistência da narrativa


Nuno Miguel Pereira

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