Quinta-feira, 28 Março

«What If» (O Amor é Estúpido) por Duarte Mata

Os primeiros quinze minutos de O Amor é Estúpido, passados a cento e vinte à hora e com um pequeno uso curioso da animação, iludem-nos de que estamos perante algo que escapa aos moldes recicláveis da comédia romântica americana. E, no entanto, apesar de se tratar de uma coprodução irlandesa – canadiana, torna-se idêntico a tanta superficialidade risonha e esquecível que se torna inútil gastar mais tinta sobre o assunto. É o típico filme em que, se nos enganássemos e entrássemos na sala vizinha, pouco ou nada se perderia.

Começando: um jovem que abandonou a faculdade de medicina (Daniel Radcliffe) conhece uma jovem animadora (Zoe Kazan) numa festa onde ambos passam despercebidos. Ela, claro está, já tem o seu guardião (Rafe Spall, filho de Timothy Spall) que é tudo o que uma mulher precisa, mas ainda assim insuficiente para lhe fazer feliz. A segunda quer então apenas uma amizade forte com o primeiro, o qual não consegue limitar os seus sentimentos a um cárcere platónico, estando numa dúvida frouxa e permanente sobre o destino a conferir à relação.

O problema deste filme é a forte dependência do argumento da autoria de Elan Mastai (responsável por O Samaritano) que em colóquios dúcteis sobre amor, sexo e fezes (sim, as personagens são muito maturas) cria às tantas um vácuo amadornado que faz das tripas, coração. Não abre as portas ao mundo de possibilidades de referências que eventualmente ocultaria. Para uma personagem que é animadora, a exploração do seu trabalho é espantosamente nula, o que torna o filme bem mais desinteressante do que poderia ter vindo a ser. Nem Miyazaki, nem Otomo ou qualquer americano. Uma piada que fosse sobre Walt Disney e já não estaríamos a insistir neste tópico. Não se está a pedir um Woody Allen mas, para que se há-de limitar os conhecimentos de um diversificado leque de personagens à Princesa Prometida, The Thing – Veio do Outro Mundo (os únicos filmes referidos) e aos hábitos alimentares do Elvis? O desenvolvimento pragmático da história segue os mais redundantes clichés do género incluindo essa palavra que Hollywood descobriu desde há uns anos para cá e que lhe enche bastante os bolsos chamada “cancro” (golpe mais que baixo para conferir dimensão ao interesse amoroso do protagonista).

O elenco é bastante seletivo. Demasiado que chega a ser discriminatório. Nem obesos, nem pessoas de metro e meio, nem qualquer etnia menos esbranquiçada, o amor existe e parece que foi feito para vintões núbeis, de cintura fina e olhos claros. É fútil tentar referir o trabalho do realizador Michael Dowse que, com um estilo pré-formatado e sem qualquer criatividade, é apenas uma marioneta para regalo sádico dos produtores (inexplicavelmente, o filme custou onze milhões de dólares). De igual modo rotulamos todas as componentes técnicas, em piloto automático e pouco imaginativas.
Em súmula, se é uma adolescente com um fetiche pelas órbitas azuladas do ator principal, somos os primeiros a segurar-lhe a porta da sala. Caso contrário engane-se, por nós, na mesma.

O melhor: Os primeiros quinze minutos.
O pior: Os restantes oitenta.


Duarte Mata

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