Foram precisos 12 realizadores e argumentistas para desmistificar a vida e os segredos subliminares do poeta norte-americano C.K. Williams [vencedor de um Pulitzer] neste Tar. O resultado é um biopic que na teoria se revela pouco usual, a adaptação de 11 dos seus poemas como narrativa que invoca as diferentes fases da vida do escritor, mas que na prática é tudo menos original.

Tudo aqui exposto é demasiado poético, mas num sentido mais “copista” que intrínseco. Os poemas, uma base excecional e rica em emoções, são transformados num “wanna beTerrence Malick [decreto a criação do pejorativo termo “maliquice”]. Parece ingrato esta insinuação, sendo que talvez o realizador sempre sonhara em aproximar-se do poeta do que propriamente o inverso, mas enquanto um é um artesão na Sétima Arte, o outro é um figura celebrizada e incontornável da literatura poética norte-americana. 

Pois bem, “Tar” (título alusivo a um dos seus mais marcantes poemas) é uma divagação que se arrasta em territórios malickianos, a natureza como berço desses pensamentos existencialistas e a figura maternal como centro do conflito humano. Os pensamentos estão lá, as filosofias “arrancadas” visceralmente dos poemas de C.K. Williams empregam na narrativa como meros alicerces e os atores expostos neste projeto ambicioso convertem-se em meras figuras inanimadas, inspiradores das palavras de Williams, condenadas às suas sílabas e da força com que são proferidas por James Franco.

Tar” é somente isto, um filme limitado pelo seu sentido de homenagem, reduzido a mera estrofe e orientado pela sabedoria de um artista valioso na cultura dos EUA e não só. Quase que nos força a afirmar que os poemas foram feitos para serem citados e não ilustrados. Beleza sem intenção nem com a sensibilidade desejada.

“Someday, some final generation, hysterically aswarm

beneath an atmosphere as unrelenting as rock,

would rue us all, anathematize our earthly comforts,

curse our surfeits and submissions.”

Tar, C.K. Williams, 1936

Pontuação Geral
Hugo Gomes
tar-por-hugo-gomesO melhor – o objetivo / O pior – o fruto desse objetivo