Quinta-feira, 25 Abril

«The Expendables 3» (Os Mercenários 3) por Paulo Portugal

“Boys with toys, men with guns”, assim se sintetiza o conceito por detrás desta espalhafatosa e milionário franchise que destila testosterona por todos os frames e cuja influência parece repousar no longínquo Doze Indomáveis Patifes, realizado por Robert Aldrich em 1967.

Percebe-se a escolha e até a adesão ao filão, já que a ação musculada carregadinha de caras conhecidas sempre se fez representar bem nas receitas de bilheteira. E, diga-se, que daqui ninguém sai enganado, já que o filme devolve exatamente aquilo que promete: o regresso dos heróis veteranos em fim de carreira, mas com garra suficiente para cada vez mais espetaculares espetáculos de piromania. Ah, sim, e agora com um Mel Gibson traficante de armas mau como as cobras e até uma nova pandilha de “expendables”, que inclui uma woman in red de stilletos, para espevitar a pulsação sanguínea destes candidatos à pré-reforma que desfilaram em parada em Cannes com o fito na manchete mediática.

Quando o conceito é naturalmente desenhado como uma máquina de fazer dinheiro, ficam, por assim dizer, mitigadas eventuais acusações ao recurso da cartilha básica de bélico entretenimento estival, com a mera intenção de gerar algumas gargalhadas motivadas por tiradas e fazer arregalar o olho dos mais sensíveis.

Como sempre, Syl Stallone assume o comando no papel do mercenário Barney Ross, na companhia do seu wing man Lee Christman (Jason Staham), do sisudo nórdico Gunner Jensen (Dolph Lundgren) ou o brutamontes Toll Road (Randy Couture). O filme começa com o resgate e o regresso do sacripanta Doc (Wesley Snipes), tão experiente a fazer parkour como a lançar facas afiadas.

Este festim de armamento, que mais parece patrocinado pelo NRA, começa por nos levar a uma sarabanda na Somália, com um ninho de turras em Mogadishu, onde são esperados por um fortemente barricado Hale Ceaser (Terry Crews). Entretanto, percebem que o traficante que procuram é Stonebanks, um homem com o semblante de Mel Gibson, e outrora envolvido na criação da equipa de mercenários. Há ainda um Arnold Schwarzenegger já com um pé no subsídio, embora mortinho por voltar a pegar num dos muitos brinquedos aqui à disposição.

Forçados a bater em retirada diante de uma barreira de fogo, recebem também indicações precisas do operacional da CIA Max Drummer (Harrison Ford) para acabar com a raça desse renegado. No entanto este embate de titãs sofrerá a concorrência de uma equipa de rookies recrutados por Ross, decididamente empenhado assinar o seu retiro para a reforma com a ajuda do angariador Bonaparte (Kelsey Grammer, aqui num papel pouco usual). Fica assim antecipado o embate entre a veterania e o sangue novo, onde se incluem a tal fêmea (Ronda Rousey) tão experiente a andar de saltos altos como a despachar clientes em altos voos, tal como um Antonio Banderas a sofrer de hiperatividade. Nem que seja para sublinhar a forma como a veterania ainda dá conta do recado.

Não se espere qualquer inovação de um estereótipo que apenas vinca o género, embora tanto a realização eficaz de Patrick Hughes, a câmara ágil de Peter Menzies Jr., tal como o guião escrito a várias mãos, incluindo Sly, confere aquele sabor dos velhos tempos capaz de esboçar leves sorrisos, mesmo aos espectadores mais exigentes. O problema nestes filmes é que há sempre maneira de justificar o inevitável complemento. É o cinema feito investimento comercial. Seja, mas que se justifique com os mínimos. Aqui existem, mas não mais do que isso.

O melhor: O sentido genuíno de brincadeira de rapaziada madura
O pior: É não saberem quando é tempo de parar…


Paulo Portugal

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