O estatuto da Marvel como produtora cinematográfica é tal que chegaram a contratar o quase desconhecido, mas competente, James Gunn (quem se lembra de Slither?) para dirigir uma das suas apostas mais arriscadas. Trata-se de Guardiões da Galáxia, uma das séries mais alternativas da Marvel enquanto editora, constituído por um elenco pouco apelativo para as grandes massas, mas que mesmo assim conseguiu um hype estrondoso durante os seus primeiros dias em cartaz, um frenesim que nenhum outro filme da Marvel havia “gozado” desde então. Mas será esse dito hype, algo merecido ou um puro exagero? Perguntam vocês e muito bem.

Na verdade, Guardiões da Galáxia resume-se a um filme fresco dentro dos parâmetros formatados do estúdio e com um claro bom gosto ao vintage. Esse último ponto torna-se evidente a banda sonora, uma alegoria de êxitos dos anos 70 e 80 (de David Bowie a Marvin Gaye, passando pelo vibrante Hooked on a Feeling, dos Blue Swede) e o tom satírico da obra que o distingue do humor quase “slapstick” dos anteriores capítulos da Marvel Cinematic Universe.

Quanto ao enredo, este centra-se na aventuras de cinco “desajustados” fora-da-lei inter-galáticos que decidem intervir para o bem de todo o Universo, ou seja, impedir que os maléficos planos de um vilão de serviço se concretizem. Esse dito “quinteto de cordas” é constituído pelo terráqueo John Quill e o seu forçado “alter-ego” Star-Lord (a ascensão de Chris Pratt para futura estrela), a assassina Gamora (Zoe Saldana e mais uma variação alienígena, desta verde), o brutamontes com problemas de expressão Drax the Destroyer (o wrestler Dave Bautista), a simpática árvore mutante Groot (Vin Diesel naquele que poderá ser o melhor papel da sua carreira e apenas munido com um frase, repetindo vezes sem conta) e por fim o guaxinim rezingão e malicioso Rocket (Bradley Cooper). A química entre eles é impagável e invejável, sendo os cinco o “motor” de todo o filme, e talvez o motivo que baste para tornar a obra de James Gunn na melhor variação cinematográfica da Marvel Studios. Se não for o caso, talvez contagiado pelo hype envolto, Guardiões da Galáxia é por enquanto o mais divertido filme deste universo desde que Robert Downey Jr. vestiu pela primeira vez o fato metalizado de Iron Man.

Um deleite cómico aspirado nas aventuras cinematográficas mais antigas do que o habitual standard da linguagem de videojogo que muitos dos blockbusters parecem ter adquirido. É visível que James Gunn inspirou-se em Firefly/Serenity (atenção o criador desta série, Joss Whedon, é já um dos braços fortes da empresa) e em Star Wars, este último talvez a matriz de todo os filmes para as massas da atualidade, e tais comparações são ainda mais evidentes com a chegada do climax (o ato menos conseguido de todo o filme), onde o qual esboça um “déjà vu” arrastado (será que estou a ver a invasão dos rebeldes à Estrela da Morte!) e prejudicado por um vilão sem um pingo de carisma nem interacção com o quinteto heróico (tirando Loki de Tom Hiddlestone, a Marvel Studios não consegue criar mais nenhum memorável vilão).

Dito isto, há que salientar que a entrada de Gunn no mundo do blockbuster é ditado por uma das mais deliciosas conversões da BD, mas nem tudo são “rosas” aqui. Existe obviamente e dentro do cinema de entretenimento muitas arestas a ser limadas, e como jubilo cinéfilo é triste ver o desaproveitamento de atores como Glenn Close e Djimon Hounsou. Porém, a maior infelicidade do filme é talvez o seu destino frente à fervorosa maquina de “fazer dinheiro” que é a Marvel. Ainda assim, Guardiões da Galáxia funciona como um filme a solo e por enquanto podemos por momentos fingir que se trata disso. Por enquanto, a sequela já se encontra a caminho … e com mais “awesome mixtapes“.


Hugo Gomes

Pontuação Geral
Hugo Gomes
Jorge Pereira
Paulo Portugal
João Miranda
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