Em “Hércules”, de Brett Ratner, existem duas ‘coisas’ que temos que ter em conta. A primeira é que não é uma tarefa hercúlea superar a hedionda versão de Renny Harlin. Já a segunda é que o marketing em Portugal em torno da interpretação de Irina Shayk é somente exagero e mediatismo, estando a participação da modelo russa reduzida a um mero cameo. Portanto, e após estes dois aspetos, só resta ver o que de bom tem este Hércules.

Um bom conselho, aliás, não fosse o facto que até o menos assíduo dos espectadores irá ser “atacado” por um vasto leque de “déjà vu”, e o mais alarmante é que tudo indica que a produção não se esforça em esconder. A começar pela própria ideia generalizada do filme, o modernizar um dos mais queridos e célebres heróis da mitologia grega, o homónimo gigante munido de uma força sobre-humana que é descaradamente reduzido a uma figura hollywoodesca dependente do carisma de Dwayne Johnson, e nada mais.

Aliás, o ator que tem servido como um verdadeiro Midas de várias produções de entretenimento é o Atlas [referenciando, mais uma vez, a mitologia local] desta fita visualmente e cenicamente bem composta, mas regida por fórmulas decadentes. Brett Ratner começa por invocar as séries televisivas rotineiras e trash, da dinastia de Kevin Sorbo ou de Lucy Lawless, até se arrastar em protótipos de Conan, dos tempos áureos de Schwarzenegger, acabando por terminar em créditos finais vergonhosamente com aspiração a “300”. Ou seja, tudo em “Hércules” é cliché, tão previsível e ridicularizado por uma narrativa mal «colada».

Mas o filme é assim tão mau? Dentro dos parâmetros do entretenimento mais despreocupado, o filme de Ratner é pomposo e não “aborrece” ninguém. Porém, é banalmente irritante e tendo em conta os gastos e os talentos aqui depositados (John Hurt, Ian McShane, Rufus Sewell, por exemplo), é um verdadeiro desperdício que só Dwayne Johnson consegue salvar. Novamente referenciando a mitologia grega (prometo que é a última), o ator prova mais uma vez que é digno de um lugar nos Campos Elísios.