Quarta-feira, 24 Abril

«The Keeper of Lost Causes» (O Guardião das Causas Perdidas) por Nuno Gonçalves

 

Os thrillers policiais tem incontestavelmente um papel importante na cultura dinamarquesa. São inúmeros os títulos que fizeram deste género uma espécie de imagem de marca da literatura e cinema escandinavos. Com o passar dos anos tornaram-se célebres por todo o mundo como sendo thrillers complexos, violentos e extasiantes, nunca perdendo, contudo, a sua forma renovadora. O Guardião das Causas Perdidas (Kvinden I buret), de Mikkel Nørgaard, baseado no aclamado bestseller internacional escrito por Jussi Adler-Olsen, é uma das mais recentes adições a esse mesmo género.

A obra abre com um breve tiroteio que deixa o inspetor Carl Morck (Nikolaj Lie Kaas) gravemente ferido, um dos seus companheiros paralisado e outro morto. Culpado de imprudência aquando do planeamento da operação que se revelaria perigosa, Morck é rapidamente transferido da unidade de homicídios para um novo departamento, denominado de Q, onde o seu único companheiro é o tranquilo Assad (Fares Fares). O nome do departamento soa intrigante e misterioso a principio, mas rapidamente nos apercebemos que não passa de um trabalho burocrático para inspetores seniores que estão simplesmente à espera da sua aposentadoria, enquanto classificam e fecham casos dos últimos vinte anos. Porém, o sangue frio de Morck e a sua incontrolável vontade de agir, levam a melhor dele. A sua curiosidade é posta a prova quando este se depara com um caso de Merete (Sonja Richter), uma deputada bem sucedida que presumivelmente terá cometido suicídio ao saltar de um navio. Contudo, o facto desta ter levado consigo para o cruzeiro o irmão mais novo Uffie (Mikkel Boe Folsgaard), portador de uma deficiência mental e uma série de outros tantos pequenos-grandes pormenores que se fazem notar no arquivo, tornam o caso ainda mais enigmático e interessante. Apesar das ordens do chefe, Morck e os colegas partem em busca pela verdade e, ainda que as suas mentes instigadas pela curiosidade e o seu modus operandi  improvisado leve a que muitas pessoas se sintam incomodadas (custando-lhes os seus postos), estes não desistem e gradualmente vão unindo os pontos de um acidente do passado e o súbito desaparecimento de Merete.

Apesar das duas narrativas não seguirem a mesma linha de tempo, o enredo não se torna confuso com os saltos constantes. Pelo contrário, o espectador recebe uma mistura meticulosamente preparada de cenas de investigação suspensas pelo repouso do olhar sobre o passado. O mistério em volta do caso em si é ultrapassado pela corrida contra o tempo, que conduz a um clímax que deixará certamente qualquer um sentando na ponta da cadeira, colimando num final intenso, que apesar de previsível, se revela satisfatório.

O melhor: A forte relação entre os personagens, nomeadamente de Morck e Assad; O enredo; As interpretações; A fotografia que vela o mundo diegético de Morck e o seu carácter.
O pior: O desfecho previsível.


Nuno Gonçalves

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