Quinta-feira, 28 Março

«Dawn of the Planet of the Apes» (Planeta dos Macacos: A Revolta ) por Hugo Gomes

Um blockbuster inteligente? Parece heresia esta afirmação principalmente para os mais puristas cinéfilos, mas a verdade é que esta “sequela de uma prequela /reboot, respetivamente vindo de um “remake” de um clássico que por sua vez é uma adaptação de um celebre e provocante livro de Pierre Boulle” (mais “tempestades” que “ventos favoráveis” neste titulo), é uma obra que reserva alguma astúcia e uma caminhada leve a muitas das questões que assombram atualmente a Humanidade (não, não é ironia).

Existe nesta revolta animal uma análise ligeiramente “trocada por miúdos” de como estruturalmente funciona um regime ditatorial (frases como “eles seguem-no porque têm medo” invoca essa mesma ideia nas audiências mais despreocupadas do verão) e o constante darwinismo ético e moral, que evidencia um distanciamento dos primatas da sua natureza e a aproximação da sua comunidade às similaridades da civilização humana e das bases de que foram erguidas.

São ideias e temáticas que Boulle havia invocado na sua obra e que Franklin J. Schaffner “beliscou” sob moldes clássicos no filme de 1968, aquele que foi considerado o inicio de um dos primeiros grandes franchisings do cinema. Nesta versão tecnologicamente irrepreensível, somos ditados por um conjunto de fórmulas e modelos narrativos, vistos e revistos, mas que funcionam naturalmente compatíveis neste genesis do fim do Mundo alternativo, é por isso que em o Planeta dos Macacos – A Revolta não esperem nada de novo no campo do cinema mainstream. Ao invés disso, contemplem jogadas brilhantemente orquestradas e arriscadas da produção.

Entre esses riscos encontramos um protagonismo irrecusável dos primatas, cujo primeiro ato é envolvente em prol destes, esboçando a sua comunidade, relações e partilha de visões, tudo elaborado por uma linguagem perceptível, mesmo sem as legendas que complementam os seus dialetos gestuais. Caesar, o chimpanzé dominante encarnado por Andy Serkis (por vias da tecnologia motion capture), é visto e limado como um líder idealista, conservador da paz e perseverante na força conjunta dos primatas. Os traços convergentes da criatura tecnológica com outras fortes personalidades históricas e bíblicas não são um disparate. Existe algo de Lenine em Ceaser,mas também de Moisés, tal como no anterior,

Ou seja, este é um mundo onde literalmente e analiticamente, os “macacos” são os reis, os condutores de toda a intriga que tal como a anterior obra de Rupert Wyatt, a muito bem-sucedida Origem, não apressa à ação nem o climax, construindo um verdadeiro drama humano nas ditas criaturas. E tal como seu antecessor, são as personagens humanas que apresentam fragilidade e pouca interatividade com o próprio espectador, mesmo que Gary Oldman seja sempre um secundário de primeira classe.

O Planeta dos Macacos – A Revolta é um entretenimento de “grau prata”, que evoca inteligência (voltando à questão inicial) e uma certa memória cinematográfica que se faz deslumbrar com uma qualidade técnica invejável (é um forte candidato à estatueta de Melhores Efeitos Visuais, vistos que as criaturas tecnológicas parecem realmente “bestas” de carne e osso). As verdades devem ser ditas e vale a pena espreitar o “amanhecer” de um imaginário que de tão de alusivo tem com a matriz a Humanidade.

O melhor – O primeiro ato, os efeitos visuais, a aproximação com o franchising original e as alusões que a narrativa propõe.
O pior – Já contamos com dois bons filmes. Será justificável um eventual terceiro filme?


Hugo Gomes 

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