Sexta-feira, 29 Março

«The Priest’s Children» (As Crianças do Sacerdote) por Nuno Miguel Pereira

Em plena silly season será complicado sair do filme “pipoqueiro” americano típico da época de blockbusters. Nesse sentido, tudo o que fuja à normalidade “Hollywoodiana” tem pouca distribuição e ainda menos marketing.

É precisamente aqui que entra As Crianças do Sacerdote, de Vinko Bresan, um filme croata – país com pouca tradição cinematográfica – que vai com certeza passar despercebido e não por culpa própria.

Para chegar a Portugal, teve de prestar provas primeiro, tendo sido um sucesso comercial gigante no seu país natal (o segundo filme mais visto de sempre), e arrecadado o principal prémio no Festroia.

A história começa quando Petar (Niksa Butijer), um vendedor de uma tabacaria local se confessa ao padre Fabijan (Kresimir Mikic). Na sua confissão admite ter pecado por estar a vender preservativos, numa cidade onde a taxa de mortalidade é demasiado elevada e os nascimentos cada vez menos.

É nessa altura que o ingénuo padre tem uma espécie de epifania: furar todos os preservativos com a ajuda de Petar, para aumentar a natalidade e os casamentos. Obviamente, as coisas não correm como o esperado.

O filme tem objetivos de comédia ligeira, mas abordando temas do mais negro que possam existir e esse é o seu erro crasso. O ambiente despretensioso e algumas piadas bem conseguidas, principalmente na primeira metade do filme, dão a entender que estaremos perante uma obra sem grandes ambições, que apenas quer divertir. No entanto, com o adensamento das temáticas e o negrume das mesmas a encher os ecrãs, o filme ganha outro tom, que nunca consegue dominar com mestria. As piadas ligeiras mantém-se, quando naquele momento seria necessário serem mais incisivas. Isto porque o filme aplica uma crítica severa aos costumes religiosos, ao racismo e à pedofilia que ocorre no seio da religião católica. Apesar de serem temas abordados, nunca são explorados. Nesse sentido, a visão de Vinko Bresan nunca foi suficientemente objetiva, perdendo-se em diversos temas sérios, mas abordando-os com excessiva leviandade.
Ainda assim, é uma boa proposta, que acaba por não atingir, ou criticar, ninguém diretamente, sendo por isso, mais facilmente digerível, sem nunca ir mais longe.

O Melhor: Algum humor negro inerente à obra.
O Pior: Pouco incisivo na crítica social que faz.


Nuno Miguel Pereira

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