Sábado, 20 Abril

Tom à la Ferme (Tom na Quinta) por Miguel Pinto

É inevitável aceitar o sucesso que o jovem Xavier Dolan tem vindo a acumular. Este cineasta e ator, com apenas 25 anos, está ao rubro. Já arrecadou prémios em Cannes e Veneza e, apesar da idade prematura, conta com cinco filmes em que ocupa o cargo da realização. Assumidamente homossexual, Xavier Dolan aborda este tema realizando e protagonizando Tom à la Ferme.

No filme acompanhamos Tom (Xavier Dolan), cujo amante acabara de falecer. Quando fica alojado na casa da família do seu falecido companheiro, tem de vestir a pele de outra pessoa, mantendo a ideia que a mãe tinha do filho ser heterossexual, muito por parte da pressão de Francis (Pierre-Yves Cardinal,) irmão do falecido.

Acompanhamos o episódio de Tom desde que este chega à quinta. Ele está bastante bem caracterizado e interpretado (Xavier Dolan é não só um grande realizador, mas um grande ator). A personagem evolui consoante a interação com os membros da família e o espectador observa este progresso, sempre credível e com razão de ser.

O filme é bastante realista por parte dos diálogos e das relações entre as personagens, entre outros. A interação entre elas constitui um elemento fundamental. É nestes “encontros” de família, nas refeições (onde Tom é sempre bem acolhido pela mãe de Guillaume e de Francis, como se fosse o elemento necessário para preencher o vazio da casa) onde se situam as evoluções do argumento, os momentos de tensão nas relações entre eles.

Cria-se também um certo desconforto no que toca à cumplicidade por parte do protagonista e à pressão que o ataca: é uma personagem que vive o filme sempre escondida, com uma máscara, fingindo-se de algo que não é para não desiludir a mãe do amante – Agathe. Este desconforto ainda aumenta mais na medida em que ele acaba por criar uma estranha relação de amor-ódio com Francis, um aparente homofóbico, ignorante e rude (pela educação que teve, o crescimento na quinta), mas que se apresenta também sensível noutros campos. Desencadeia-se uma estranha ligação entre os dois, uma cumplicidade desnecessária por parte do protagonista, que nos revela uma atitude algo masoquista. A personagem de Francis também é bastante curiosa, no mínimo. É adulto mas ainda vive com a mãe, acabando por ser um autêntico submisso desta. Tudo o que faz é com o objetivo de a agradar.

O filme tem um tom clássico que se mantém até ao final, para além de uma banda sonora memorável absolutamente adequada às devidas sequências. Há um certo suspense e mistério sempre permanente relativo à família da quinta: desconfianças e medo por parte de vizinhos, donos de bar, etc. Existem várias sequências absolutamente brilhantes: o funeral; a cena da casa de banho pública; a perseguição nos campos de milho e claro, os diálogos entre o trio à mesa.

Xavier Dolan mostra-se confiante e tem razões para tal, pois apresenta uma maturidade a construir personagens e a filmar as suas respetivas relações que não seria de esperar de alguém tão jovem. É um talento prematuro, sabe o que filmar e como fazê.-lo. Tem influências clássicas presentes neste filme mas mantém sempre a sua identidade. Tom à la ferme é uma autêntica odisseia portentosa sobre a perda e a necessidade de aceitação.

O Melhor: A quinta como improvável cenário alvo das intrigas familiares; as personagens e as suas relações; a banda sonora.
O Pior: Um final aparentemente apressado.


Miguel Pinto

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