Quinta-feira, 28 Março

«What Maisie Knew» (O Que a Maisie Sabe) por Nuno Miguel Pereira

No cinema ainda há espaço para surpresas e, por vezes, é de onde menos se espera que saem as maiores. Se no ano passado, esquecendo os “monstros” sagrados intocáveis, com um lobby fortíssimo, que os tornava material para o Óscar (basta referir Golpada Americana nessa categoria), outros passaram que nem ninjas por entre a chuva. Temporário 12 foi exemplo disso e O Que a Maisie Sabe é mais um desses casos. Iniciando o seu percurso em 2012, passando por uma série de festivais (Tóquio, São Francisco, Sidney, para citar alguns), chega agora em 2014 aos cinemas Portugueses, já com o seu DVD lançado nas terras do tio Sam. Pior: parece vir em modo de escoar mercadoria antiga, o que a avaliar pelos filmes que vão estreando em Portugal, é um erro crasso de subaproveitamento.

Em O Que a Maisie Sabe seguimos a vida de Maisie (Onata Aprile) vista pelos seus próprios olhos, enquanto o seu mundo vai desabando. Susanna (Julianne Moore) e Beale (Steve Coogan) são os pais desta adorável e tranquila menina, vivendo em perfeito ambiente de guerrilha. Resultado: separam-se deixando Maisie entre os dois, com os dois, ou sem nenhum, em diferentes alturas da trama. Nesse instante também surgem Lincoln (Alexander Skarsgård) e Margo (Joanna Vanderham), que a dado momento se tornam trave-mestres na vida desta criança.

Se inicialmente as personagens são-nos apresentadas como estáveis e obrigam-nos a escolher lados, com o decorrer da narrativa vamos apenas torcendo pela Maisie. Aliás, esta história tem a capacidade de se apoiar e viver desta personagem, que puxa toda a atenção, tornando todas as outras relevantes somente quando interagem com ela. Nesse sentido, grande parte do mérito recai sobre a pequena e adorável Onata Aprile que dá uma lição de contenção e de carisma a qualquer ator consagrado. Ela cria imediatamente empatia com qualquer pessoa que a veja atuar.

Em relação à narrativa, Scott McGehee e David Siegel (que realizam) criam um ensaio sobre os “cinzentos” das relações humanas. Aqui todas as relações que se estabelecem têm o seu quê de errado e de certo, não sendo julgadas. Neste filme ninguém é completamente herói ou vilão, conseguindo tornar-se cru e real. No final, apesar de não concordarmos com a maioria das atitudes de alguns das personagens, conseguimos compreende-los.

Por outro lado, em termos técnicos, o toque Indie está espalhado por toda a obra, desde a forma como a câmara se mexe, passando pela fotografia e terminando na (belíssima) Banda Sonora, que acompanha a obra, sem se sobrepor a ela.

No entanto, o final do filme é algo forçado. Por querer ser tão ousado e tentar não ser óbvio, torna-se previsível, caindo no exagero. Isto porque a toada dos acontecimentos passa de normal e realista para idílica, o que não faz sentido, tendo em conta a personalidade dos intervenientes. Este é, por ventura, o único ponto incoerente, numa obra bastante competente e carismática.

O melhor: Maisie é absolutamente genial, compondo um filme quase completamente coerente.
O pior: O final entra em contramão com a toada do filme, sem, no entanto, se despistar.

 


Nuno Miguel Pereira

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