Sexta-feira, 19 Abril

«Quai d’Orsay» (Palácio das Necessidades) por Hugo Gomes

É nos bastidores do Ministério dos Negócios Estrangeiros franceses que decorre grande parte da ação deste O Palácio das Necessidades (titulo de referências portuguesas), a adaptação de uma banda desenhada autobiográfica de Antonin Baudry (utilizando o pseudónimo de Abel Lanzac) que empregou as suas memórias como escritor de discursos do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominique de Villepin. Porém, na BD tal como no filme, os nomes e situações são ficcionadas de modo a não coincidir com a realidade dos factos e talvez alargar as liberdades na sua própria crítica, abordando o burlesco da ação. Mas mesmo afastando-se de tal veracidade, a sátira prevalece com tamanha força, sendo esse o “vapor” que faz movimentar todo o filme.

O Palácio das Necessidades é uma comédia de alguma astúcia, um jubilo corrosivo que transforma “politiquices” em verdadeiros alvos abater, onde o realizador Bertrand Tavernier (À Volta da Meia-Noite, 1986) acertado no tom e ainda mais nas suas personagens, nomeadamente as figuras caricaturais de Thierry Lhermitte (como o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexandre Taillard de Worms) e de Niels Arestrup (como Claude Maupas), este último “roubado” todas as cenas que entre graças à sua calma incorruptível. Mas O Palácio das Necessidades é, resumidamente, um filme de gags, a sua narrativa é “cuspida” como um amontoado de sketches interligados por raccord, intercalados por citações dos Fragmentos de Heráclito. Para além disso, existe um subenredo completamente desnecessário pelo meio que forçadamente tenta levar a intriga para fora do seu habitat natural, agravando assim o seu desequilíbrio narrativo.

Longe de ser um Doutor Estranho Amor francês, O Palácio das Necessidades é sobretudo uma entrega satírica que reserva alguma precisão sapiente e personagens insólitas, mas que infelizmente é servido por uma fórmula desigual e facilmente consumível. Merecia muito mais esta paródia politica.

O Melhor – a sua veia satírica e critica
O Pior – alguns subenredos dispensáveis e o modelo sketch como narrativa


Hugo Gomes

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