Quinta-feira, 25 Abril

«The Wind Rises» (As Asas do Vento) por João Miranda

 

The Wind Rises foi o último filme de Hayao Miyazaki. O filme mistura a história de Jiro Horikoshi, um génio apaixonado por aviões que continuamente sonha em construir um ele próprio, baseada na personagem verdadeira que construiu vários caças que foram usados pelos japoneses na Segunda Guerra Mundial, com o conto de Tatsuo Hori, escrito no início do séx.XX, que conta uma daquelas histórias de heroínas trágicas tão em voga no século anterior. É nesta mistura que se começam a encontrar os problemas deste filme.

Já muito foi dito e escrito sobre a forma como é retratada uma personagem histórica tão polémica: os nacionalistas japoneses acham que é mostrada como demasiado fraca, os liberais acham demasiado inconsequente e ingénuo e os países que sofreram o terror dos aviões que construiu acham que, tendo em conta a posição negacionista do Japão em relação a muitos dos crimes de que o acusam de cometer durante a guerra, apontam, com razão, que não se vê a destruição causada pelos aviões, que são apresentados mais como desafios tecnológicos do que como instrumentos de guerra. No final todos apontam para o mesmo: falta consciência à personagem e consequência aos atos. Ainda há um esforço por parte do realizador de inserir sonhos e diálogos em que se aponta para estes dois pontos, mas são rapidamente esquecidos e nunca aprofundados. Talvez se possa argumentar que algo que costuma caracterizar o realizador, uma personagem principal com encanto e inocência quase infantis, acaba aqui por não servir a história que se propõe contar.

Em relação ao elemento ficcional do filme, esse acaba por levantar outros problemas: se esta é a parte mais emocional da história, por outro lado não inclui personagens completas, ficando-se por elementos passivos que se limitam a existir para que a personagem principal possa (re)agir. Secundária à história principal, o conto que lhe deu origem fica tão mal servido por este filme como a História pela parte “baseada em factos reais”.

Mas não se pense que este é um filme mal feito e que não vale a pena ver: todos os defeitos que lhe podemos apontar na história são mais do que compensados pela excelência que atinge a animação. Se já antes Miyazaki nos surpreendeu com o seu trabalho, em The Wind Rises o ecrã enche-se continuamente de elementos e pormenores que não é possível apercebermo-nos de todos e o filme acaba por exigir, pelo menos a nível visual, vários visionamentos. A cena da viagem de comboio que dá lugar a um tremor de terra é impressionante, bem como as que se seguem do fogo que consome Tóquio e da luta dos sobreviventes para se salvarem e àquilo que lhes é querido.

O Melhor: A animação.
O Pior: A inconsequência histórica.


João Miranda
(Crítica originalmente escrita em abril de 2014)

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